Comentário Evangelho – DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO – B

1ª leitura: Is 50, 4-7 – “Jesus Cristo é o “Servo de Deus”

Salmo: 21 – “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”

2ª leitura: Flp 2, 6-11 – “Não se valeu da sua igualdade com Deus”

Evangelho: Mc 11, 1-10 – “Hossana. Bendito o que vem em nome do Senhor”

Hoje o nosso grito pode parecer uma derrota, mas se for confiada ao Pai, tem a força de fazer tremer a pedra todos os sepulcros.

Eis o homem! E aparece à varanda do universo o rosto de Jesus manchado de sangue. A dor sob a qual vacila é a dor de todos os homens que sofreram antes dele. Todos os horrores que incumbem sobre a humanidade caíram na cruz.

Eis o Filho de Deus! E aparece no coração da terra o padecer de um Deus apaixonado. Paixão eterna. «Deus primeiro padeceu e de pois incarnou. E qual foi o sofrimento de que antes padeceu? Foi o sofrimento do amor, paixão pelo homem. Caritas est passio» (Orígenes).

Amor é paixão. Existe uma dor de amor que é beleza, misteriosa beleza, terrível beleza, graça que não consigo ter, que posso apenas invocar! E contemplar em Cristo. Como as mulheres no Calvário, que estavam a observar de longe. Jesus não teve inimigos entre as mulheres, apenas entre elas não tinha inimigos (F. Querè). Último núcleo fiel, estão com Cristo, não podem tirar os olhos dele, imergem-se nele. Primeiro núcleo de igreja, aquelas mulheres olham para Jesus com o mesmo olhar de paixão com que Deus olha o homem. A igreja nasce ali, da contemplação do Crucifixo amor. A fazer o cristão não são os ritos religiosos, mas o participar no sofrimento de Deu na vida terrena (D. Bonhoffer).

Verdadeiramente este homem era Filho de Deus! Primeiras palavras de um homem, quando a Palavra de Deus no mundo não é mais palavra, se tornou grito, depois se tornou muda. Palavras de um soldado, especialista de morte. O que viu na agonia de um moribundo, ao ponto de lhe fazer pronunciar o primeiro ato de fé cristão? Ele, especialista de morte, naquela morte viu Deus. Viu-o na morte, não na ressurreição. Morrer assim é coisa de Deus, é a revelação.

Desce da cruz, gritavam. Mas se desce não é Deus, raciocina ainda em termos de poder, é ainda a lógica humana que vence, é só um homem. Só um Deus não desce do madeiro. Entrega-se à noite, abandona-se ao Outro para os outros.

Representando-nos todos nos nossos abandonos, nas desolações, nas noites. E sei que nunca compreenderei totalmente, mas sei também que Cristo não veio ao mundo para que nós o compreendêssemos, mas para que nos agarrássemos a ele, para nos agarrarmos à cruz e nos deixarmos simplesmente transportar por ele, para o grande Reino da vida.

Cada nosso grito, cada nosso abandono, pode parecer uma derrota. Mas confiou-se ao Pai, tem o poder, sem que nós o saibamos, de fazer tremer a pedra de cada nosso sepulcro (L. Pozzoli). Todo o Evangelho é corresponder ao crucificado Amor com o nosso humilde, crucificado amor. Toda a fé é abandonarmo-nos ao amor abandonado.

Senhor Jesus, te agradeço pela tua Palavra, que nos fez ver melhor a vontade do Pai. Faz que o teu Espírito ilumine as nossas ações e no comunique a força de realizar aquilo que a Tua Palavra nos fez ver. Faz que nós, como Maria, tua Mãe, possamos não só ouvir, mas também praticar a Palavra. Tu que vives e reinas com o Pai na unidade do Espírito Santo.

Ámen

(In, qumran2.net e lachiesa.it – traduzido e composto por fr. José Augusto)

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