1ª leitura: Sb 12,13.16-19 – “Não há Deus além de vós, que tenha cuidado de todas as criaturas”
Salmo: 85 – “Senhor, sois um Deus clemente e compassivo”
2ª leitura: Rom 8, 26-27 – “O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza”
Evangelho: Mt 13, 24-43 – “Senhor, não semeaste semente boa no teu campo?”
A PALAVRA É MEDITADA
Uma outra parábola da pena do nosso (praticamente) amigo Mateus: o campo semeado com joio.
Joio: uma terrível erva infestadora que se agarra e sufoca a planta boa e – diz a parábola – grão bom e erva má crescem juntos, convivem, devem partilhar o terreno. A sabedoria do patrão espanta-nos: manda para casa os zelantes servos que queriam um belo prato à inglesa, devotamente motivados em arrancar o joio, “Paciência”, diz o patrão, para não correr o risco de arrancar o trigo bom no calor curativo.
Parábola luminosa, evidente, aquela de hoje: a Palavra semeada no domingo passado, o Reino de Deus cresce repartindo o campo com as trevas, a obscuridade, o joio. É a experiência que todos os filhos da luz mais cedo ou mais tarde fazem: depois de dois mil anos de Evangelho, às vezes precisamente nos países tradicionalmente cristãos, a erva má parece sufocar o anúncio de salvação.
Nas palavras tudo funciona, mas nos factos devemos render-nos à evidência: não obstante Cristo nos tenha salvado, o homem tem dificuldade em aprender.
Atentos, amigos, a não cair na habitual lamentação de nós pios católicos incompreendidos pelo mundo mau, etc.… a salvação é coisa séria e o mestre Jesus sabe que luz e trevas se enfrentam. Mas que as trevas fazem mais barulho.
Desfolhai um jornal qualquer e ereis ladainhas de factos horríveis, lereis sobre o ponto de não retorno de muitas situações, de horríveis factos de crónica, de situações de injustiça à aparência incuráveis; bem: virai página e vereis a última noticia de fofoca, a publicidade do novo reencontrado para ficar em forma vendido a caro preço.
Não há uma coisa pior que o mal: habituar-se a ele, torna-lo normal e inevitável, fingir ignorá-lo, pensar que entre luz e trevas – talvez – no fundo seja melhor viver numa bela nuvem.
Em equilíbrio entre delírio de omnipotência pelo que o mal é sensação subjetiva, e um vetero-moralismo que muitas vezes nos torna a nós cristãos fariseus furiosos, a Palavra de Deus rasga as trevas com uma ideia imensa: paciência.
Paciência filhos do reino, paciência, deixai a Deus fazer o seu trabalho. Paciência, discípulos do Mestre, vivemos tempos escuros, em que a razão e a fé devem fazer caminho com fadiga no meio da indiferença e da insignificância.
Paciência, discípulos do Nazareno, a guerra já está vencida, o dia avançou, a verdade – imensa – como torrente soterrânea está alcançando o mar. Eu acredito nisto, amigos, a sério, acredito que o Reino avança. E admiro-me em o acreditar, comovo-me diante do silencioso trigo que cresce no olhar que me ama, no jogo puro da criança, no gesto generoso de quem – em nome e por conta do Rabi Filho de Deus – põe gestos de luz nas trevas densas.
Paciência, discípulos daquele que veio trazer o fogo, paciência nas nossas pobres e pouco credíveis comunidades paroquiais, paciência em ver – nuas – as fragilidades dos nossos companheiros de viagem, paciência quando um conatural instinto de superioridade nos faz jugar – com uma atitude de todo devota – os irmãos que ainda ancora (e sempre) medirão a sua fragilidade.
E – por fim – paciência contigo mesmo, irmão que lês. Sabemos bem que a vontade de dividir o mundo em bons (nós) e maus (eles) levou os discípulos por horríveis caminhos de violência, no passado.
Não: com contava Youssef, pároco palestinense de uma comunidade, metade de árabes e metade israelitas, para os cristãos o inimigo nunca é o outro, está dentro de cada um de nós.
Então, sem cair em perniciosas automutilações, olhemos dentro de nós mesmos o joio (e – por uma vez – chamemo-la pelo nome!) e olhemos para o trigo bom semeado pelo Senhor. Paciência, amigo que lês, se te parece que demasiadas trevas arruínem a tua vida: temos toda a vida para aprender a viver, paciência se pensavas em ser um padre melhor, um catequista melhor, um marido melhor: por vezes a ardente experiência do limite (Pedro ensina) abre-nos a barragem da misericórdia. E torna-nos semelhantes a este sábio dono do campo.
A PALAVRA É REZADA
Ó Senhor, que continuamente nos incitaste a estar acordados a perscrutar a aurora a ter os pés nos sapatos e não nas pantufas, faz que não adormeçamos nos nossos sofás nas nossas ravinas nos berços em que nos baloiçamos este mundo de trapos, mas estejamos sempre atentos a perceber o murmúrio da tua voz que continuamente passa entre as margens da vida a produzir frescura e novidade. Faz que a nossa sonolência não se torne nosso leito de morte e – quando muito – dá-nos tu um pontapé para estar despertos e repartir sempre.
Ámen
(In, qumran2.net e lachiesa.it – traduzido e composto por fr. José Augusto)