Comentário Evangelho – XXVI Domingo Tempo Comum – A

1ª leitura: Ex 18,25-28 – “Quando o pecador se afastar do mal, salvará a sua vida”

Salmo: 24 “Lembrai-vos, Senhor, da vossa misericordia”

2ª leitura: Filip 2, 1-11 – “Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”

Evangelho: Mt 21, 28-32 – Os publicanos e as mulheres de má vida, irão adiante de   vós para o reino dos céus

A PALAVRA É MEDITADA

No domingo passado ficámos arrasados pelo comportamento do dono da vinha, quando realizou um gesto aparentemente injusto.

Se calhar também nós, como os deportados na Babilonia que se lamentam de expiar a culpa dos antepassados, nos zangamos com a lógica de Deus. E Ezequiel, também ele prisioneiro dos babilónios, convida os seus e a nós a assumir uma lógica diversa, a de Deus.

Nestas semanas o Evangelho está a obrigar-nos a fazer um caminho para a compreensão de quanto seja necessário ter de si uma ideia realista, humilde: do servo que pensa poder restituir uma soma impossível, àqueles que começaram a trabalhar na última hora e se julgam ser os da primeira, o apelo que volta  do Senhor é a não preferir o próprio eu ideal àquele real, a não nos deixarmos cegar pelos andaimes que construímos à volta de nós mesmos para nos tornarmos aceitáveis (antes de mais a nós próprios), porque o risco é o de não poder ver quem somos realmente, e portanto nem sequer quanto somos belos de verdade, se nos virmos com os olhos de Deus.

Toda esta dinâmica volta na parábola de domingo: existem muitos “yes man” que dizem “sim, sim” e depois não fazem, porque um assenso rápido e acrítico é menos comprometedor, parece fazer contentes todos e logo, permite confundir-se na massa, não ter de se explicitar. Os entusiastas da primeira hora, aqueles que arregalam os olhos e dão graxa quando fazes alguma proposta radical, aqueles que falam disso á direita e à esquerda… e depois se vão embora, porque a sua parte já a fizeram com a sua cena condescendente.

Bem diversa é a atitude de quem sabe estar com as próprias resistências e as mete em campo. Quando uma dificuldade ou um temor são tema, tornam-se logo ocasião de confronto e di diálogo. Olhando na cara o negativo, pode-se também decidir contestá-lo e ir em frente, como o Sacramento da Reconciliação antes, e a psicoterapia depois, nos demonstram.

O “yes man”, o homem do sim instantâneo irreflexo e condescendente priva-se desta possibilidade, e mantém as suas resistências e as suas dificuldades intactas e sepultadas – até ao dia em rebenta, e desaparece.

Publicano e prostitutas acreditaram no apelo à conversão feito pelo Baptista porque, mesmo querendo, não teriam podido fazer-se ilusões sobre a qualidade da sua vida; as pessoas religiosas ao invés não acreditaram nele, porque acreditar nele teria significado ter de pôr em discussão o próprio consentimento, pôr em crise as próprias seguranças, coisa que a fé exige, e a religião detesta.

A PALAVRA É REZADA

Devo dizer-te, ó Jesus, que à primeira vista, esta página evangélica me deixa surpreendido e espantado: como é possível, pergunto-me, que tu, Justiça infinita, pagues quem trabalha durante um dia inteiro e quem trabalha por poucos minutos, com o mesmo estipêndio? É antissindical. É injusto. E procuro assim explicações adocicadas para tentar defender a “tua” justiça. Depois, o teu Espírito abre-me o coração e então compreendo com alegria que aquilo que tu ofereces não é a humilde paga para o pão de todos os dias, para o qual basta a saúde e a boa vontade, mas a salvação eterna, o paraíso. E ali não existem primeiros e últimos.  Existem apenas os salvos pelo teu amor misericordioso. De Maria, tua e nossa mãe, ao último pecador que te sussurrou com fé: «Recorda-te de mim no teu reino». E tu cheio de alegria pelo filho salvo ao último respondes: «Hoje estarás comigo no paraíso». Ó Senhor, recorda-o sempre a todos e sobretudo a mim, porque ainda tenho um coração de pedra.

Ámen

(In, qumran2.net e lachiesa.it – traduzido e composto por fr. José Augusto)

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