Como se usa concretamente um diário espiritual? Eis aqui um simples método em 4 passos.
Em três post já publicados tentámos ver juntos o que é um diário espiritual (podes encontrar aqui), porque este instrumento é de verdade essencial no caminho de discernimento vocacional (aqui encontras 5 motivos) e qual forma deva ter (em papel ou digital? Aqui a resposta).
Quando explicámos que coisa seja um diário espiritual, dissemos que é um lugar onde poder escrever em plena liberdade aquilo que diz respeito à relação pessoal com o Senhor, a vida de oração e o próprio caminho espiritual. Já dissemos também que é importante que cada um “construa” este lugar, tão íntimo e pessoal, segundo as próprias preferências, para que se possa sentir “em casa “.
Agora entramos no assunto e vamos à prática: como se usa um diário espiritual? Como se faz concretamente? Tentemos dar-nos um método.
Quando e quanto usá-lo?
Esta pergunta não pode certamente ter uma resposta unívoca para todos: depende da tua sensibilidade pessoal, do tempo que consegues dedicar-lhe, de algum hábito que tens ao escrever, de que hábito consegues, construir, de que objetivos tens, etc…
Esquematizando muito, porém, talvez se possa dizer que um diário espiritual pode ser usado em 4 modos diversos:
- “ao sentimento”: toma-lo nas mãos e escreves “quando me sinto inspirado/a”, “quando calha”, “quando tenho tempo”, “quanto me apetece”, “quando sinto necessidade”…; espero não seja preciso dizer que desaconselhamos vivamente este uso; agir na vida espiritual somente segundo “a vontade do momento” leva-nos a ser muito superficiais, a não ser capazes de ir verdadeiramente em profundidade, a não incidir a sério sobre a transformação da nossa vida; sem contar que na vida espiritual cristã temos que fazer as contas com uma relação (entre tu e Deus), que implica uma atenção e um cuidado constantes da parte de ambos (provocação: e se hoje Deus tivesse vontade de estar um pouco contigo e tu não?); portanto: usa-o também “ao sentimento”, mas não somente!;
- “à necessidade”: usa-se o diário espiritual “quando serve“, por exemplo durante um retiro espiritual, durante um exercício que te deu para fazer o teu guia espiritual, durante um curso de formação cristã, durante o encontro do grupo vocacional, etc…; esta é uma utilização já mais séria e profunda relativamente à precedente (e talvez seja a mais difusa?); deste modo o diário torna-se útil ao teu caminho durante alguns momentos particulares, algumas passagens fortes; provavelmente a primeira vez que “criares” o teu diário espiritual será durante um destes momentos, e no inicio poderás usá-lo deste modo; com o avançar do teu caminho porém, aconselhamos-te a passar a uma das duas modalidades sucessivas;
- “com intervalo fixo“: usa-se o diário espiritual como um instrumento de autoavaliação com um intervalo regular (por exemplo uma vez por mês ou uma vez por semana); aqui estamos dentro da utilização mais útil e boa (juntamente à sucessiva) do diário espiritual; este torna-se de facto um compromisso fixo, que tu mesmo/a decidiste e fixaste previamente, para fazer o ponto, para tentar sintetizar o que viveste no último mês (ou na última semana); usa-se também para se preparar bem para o encontro com o guia espiritual e/ou com o confessor (aqui encontras um artigo sobre este aspeto);
- “quotidianamente”: usa-se o diário espiritual todos os dias, no final do próprio tempo de oração pessoal (serve-te um método de oração? Aqui encontras um para ti); juntamente com a anterior, esta é seguramente a modalidade melhor para utilizar este instrumento, porque te permite anotar com regularidade todos os dias quanto o Senhor realiza na tua vida, que coisa emerge, que pensamentos e sentimentos, que perguntas, que intuições; certamente poderá haver dias mais proveitosos e outros menos, mas poder escrever todos os dias nem que seja só uma palavra, muda profundamente a tua experiência de vida espiritual; esta 4ª modalidade normalmente acompanha-se com a 3ª, e aliás, quanto escrito todos os dias torna-se precisamente o material sobre o qual podes depois fazer a tua avaliação mensal ou semanal, escrevendo a tua síntese.
Um método concreto em 4 passos
Que tu uses o diário espiritual segundo a primeira (esperemos que não), segunda, terceira ou quarta modalidade, poderia ser-te útil um simples método para te abeirares deste instrumento. Proponho-te por isso um simples esquema em 4 passagens (que retoma os elementos do método de oração já proposto noutros artigos, encontra-lo aqui).
Passo 1: encontra um tempo e um lugar adequado e põe-te em oração
A escritura do diário espiritual é um exercício verdadeiro e profundo, em que entras em ti mesmo/a e te metes em diálogo com o Senhor. É necessário, portanto que tu possas encontrar um tempo mesmo teu, pessoal, em solidão. Encontra, portanto, um lugar e uma situação adequada, que te ajude a entrar em ti mesmo/a e que minimize as distrações. Talvez já estejas habituado/a fazer isto para encontrares os teus tempos de oração… A preparação é a mesma.
Encontrado o teu tempo e o teu lugar, poe-te cómodo/a, desliga o telemóvel (colocar a modalidade avião é o modo melhor para ficar em paz pelo menos por este breve tempo). faz um sinal da Cruz e mete-te depois na presença do Senhor: estás iniciando um tempo de oração com ele, nãos estás sozinho/a! Invoca por isso o Espírito Santo, e pede ao Senhor que te ajude a olhar-te dentro e olhar a tua vida (desde o último mês, ou semana, ou do dia). Se te ajuda a entrar em sintonia com o Senhor, podes também tomar o Evangelho do dia, ou um outro texto ou uma oração que te ajude.
Passo 2: diz respeito ao teu último período
Tentarás depois a voltar a ver este último período da tua vida, o tempo passado desde a última vez que escreveste no diário até hoje. Percorre-o com calma, trazendo à tua memória as coisas que aconteceram, os momentos de oração que viveste, as pessoas que encontraste, as fadigas e as alegrias que atravessaram a tua vida, as perguntas que sobressaíram.
Para cada momento (ou então para aqueles mais salientes) que te vem à memória tenta parar um instante, a procurar dentro de ti todos os seus elementos essenciais: que pensamentos tive naquela passagem, que emoções percebi dentro de mim, que coisa me sentia levado/a a fazer, ou a dizer, ou então a não fazer ou não dizer, etc…
Atenção: toma o tempo que te serve! É um trabalho de introspeção que deve ser feito com calma e atenção, sem pressa: não cedas à tentação de escapar!

Passo 3: escreve
Quando tiveres olhado todos os momentos deste período, tenta perguntar-te: “neste momento da minha vida, precisamente agora, quais são os elementos que me parecem mais centrais, mais importantes? “. E finalmente podes começar a escrever, procurando responder a esta pergunta.
Escreve segundo a tua sensibilidade e personalidade: muito ou pouco, por pontos ou de maneira discursiva, recontando os eventos ou parando mais sobre os raciocínios, dirigindo-te diretamente a Deus ou então de maneira impessoal, etc… Em geral, porém, evita os excessos: escrever páginas e páginas provavelmente te levará só a fazer confusão e a “distrair-te” daquilo que conta de verdade.
Passo 4: agradece e sai da oração
No final relê quanto escreveste. Isto é quanto o Senhor te deu viver nos dias passados e podes depois voltar a viver neste tempo. Agradece-lhe por isso: a tua vida está cheia da sua presença, sempre e em todos os casos. Descobri-lo em ação é um dos dons maiores que Deus te possa fazer.
Por fim sai da oração como estás habituado/a a fazer (por exemplo com um Pai nosso, saudando Maria, etc…).
O que achas?
O que achas? Convenci-te a iniciar um diário espiritual, ou então a usá-lo de maneira mais profunda e eficaz? Espero mesmo que sim.
Se tens outras questões, sugestões, indicações ou mesmo só uma partilha, escreve-nos.
fra Nico
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