Devagar é suave

Existe sempre aquele momento da semana em que me sento ao volante para percorrer os 200 km que separam o local onde trabalho do local onde vivo com a família. Desde que comecei a viajar num veículo totalmente elétrico comecei a saborear a experiência do desacelerar, que extravasa em muito as horas passadas na estrada. Os veículos elétricos também aceleram, o acelerador está lá e é só carregar. Mas, com o painel de condução ecológica, aprendi que podemos adaptar a velocidade às condições do esforço da estrada. Se vamos a subir temos de desacelerar.

Em vez das tradicionais duas horas, pois sempre gostei de cumprir os limites de velocidade, demoro duas horas e uns minutos, podem ser quinze ou dezessete ou vinte e dois. Nunca percepcionei este tempo a mais como desperdício, muito mais quando comparados ao tempo perdido em zappings e scroll downs nos aparelhos digitais.

As últimas décadas fizeram-nos dar valor a tudo aquilo que é rápido e acelera a realização das inúmeras tarefas. Será que não estamos a chegar ao ponto de inversão e precisamos de dar valor ao devagar e ao desacelerar?

“20 is plenty” (20 é muito) ou “love 30” (amo os 30) são os slogans que movem as localidades que adotam limites de velocidade que aliam uma maior segurança com a ação climática. Trata-se de limitar a velocidade a 30 km/h ou às quase equivalentes 20 milhas por horas (32,2 km/h).

Reconheço que já é difícil cumprir o limites de velocidade 50, quanto mais 30. Para compreender a profundidade desta medida e pô-la em prática, é preciso uma nova mentalidade assente no desacelerar que sustenta novos estilos de vida.

Um estilo de vida mais ecológico tem por base o abrandamento de um ritmo frenético e acelerado, que apela a centrarmo-nos no presente, o que exige trabalhar a virtude da paciência. Exigirá redimensionar as distâncias e experienciar o valor da walking-distance (distância a andar). Para quem gosta ou quer tomar o gosto de andar a pé, existe uma funcionalidade nas aplicações digitais de mapas, identificada por um peão, que nos dá a distância a pé entre dois pontos, em minutos (ou horas).

Existem também meios de transporte públicos ou alternativos, como as bicicletas ou as recentes trotinetes. Na verdade, ainda temos muito a aprender na partilha das mesmas vias por todos estes veículos, pois nem sempre oferecem a segurança desejada entre as várias formas de mobilidade.

O dia 22 de setembro marca o dia internacional sem carros. Talvez já o tenhamos vivido com todo o empenho ou como um dia igual a todos os outros. Este ano procuremos fazer do dia 22 um tempo especial, um dia para experienciar algo de novo. Pode ser experimentar circular dentro das localidades a 30 km/h (se tivermos mesmo de usar o carro), fazermos um percurso de bicicleta, andarmos a pé em todos os percursos inferiores a 30 minutos. Se correr bem, podemos procurar repetir mais vezes. Lembremo-nos da moral da história da lebre e da tartaruga, vale a pena experimentar que “devagar é suave e suave é rápido”.

Adaptado de Pegada Zero, Cidade Nova, Agosto/Setembro 2022.

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