O discernimento requer atenção à realidade, bons critérios para o abordar e um confronto humano, embora permanecendo ação pessoal que não se pode delegar a outros.
fra Massimiliano Patassini, Diretor editorial

Um tema que talvez hoje passou um pouco de moda é o discernimento. Este ato, que envolve toda a pessoa, consiste em avaliar com atenção uma certa situação para compreender qual a escolha a fazer.
Diz respeito um pouco a toda nossa vida, das decisões mais simples e quotidianas, como a alimentação, o vestuário, a organização do tempo, àquelas que marcam de modo importante o nosso percurso, como as escolhas de vida, o trabalho, a escola…
É claro que o peso de cada decisão é diverso, mas é também verdade que a partir das pequenas escolhas aprendemos a realizar aquelas grandes.
Penso que seja importante perguntarmo-nos: como é que nós escolhemos hoje? com base em que critérios? Claramente existem campos na vida humana que requerem diversos tipos de competências. Tomar uma decisão em campo médico não é a mesma coisa que em campo económico, e no entanto há um elemento que permanece em todos os âmbitos: o facto que nós, seres humanos, estamos envolvidos nisto, que o discernimento é um facto humano.
O que é que nos guia no discernimento? Muitas vezes o bom senso, aquilo que percebemos da vida, que, porém, corre o risco de se tornar um pouco autorreferencial. Não esqueçamos donde vimos: é paradigmático o episódio do Génesis, em que prevalece a pretensão do homem de conhecer tudo, de compreender tudo, sem reconhecer o seu ser criatura, o simples facto que não nos damos a vida sozinhos. Por vezes parece prevalecer a ideia: «Eu sei aquilo que é bem para mim», que parece colocar em primeiro plano a liberdade da pessoa, na sua capacidade de se autodeterminar; na realidade, quanto mais fundamos as nossas decisões apenas sobre nós próprios, mais estamos sujeitos aos preconceitos que trazemos connosco, aqueles automatismos a que estamos ligados. É de verdade liberdade esta?
Também o mundo emotivo tem um peso importante nas escolhas, especialmente quando entra em jogo o medo, que hoje é reforçado por polarizações e conflitos sempre mais intensos: deves lançar-te, para um lado ou para outro, não há espaço par ao diálogo ou para o confronto. Isto não ajuda o discernimento, que não pode ser guiado só pelas emoções, mas precisa de encontrar razões e confirmação na realidade.
Os nossos santos, Francisco e António, mas também muitos outros, mostram-nos, através da vida boa que viveram, também se nem sempre simples, que o Evangelho é um válido critério para que o nosso discernimento seja de verdade humano, isto é, dirigido à realização da pessoa.
E o que diz o Evangelho? Bem, muitas coisas. Aliás, cada passo, cada texto ajuda a afinar o discernimento. Uma síntese importante é, porém, o mandamento do amor, que põe como critério de discernimento isto: orientar-se para aquilo que me ajuda a amar mais a Deus e o próximo.
O discernimento joga-se, portanto, nas relações, não é qualquer coisa de autorreferencial. Por exemplo, quando Francisco inicia o seu caminho de conversão, a escuta de um texto do Evangelho toca-o profundamente e confronta-se com um padre, para que lho explique: a esse ponto percebe que aquela é a sua estrada. Ou então, quando se juntam a ele os companheiros, não decide autonomamente como proceder, mas coloca a questão ao Papa. Ainda, quando se pergunta se seja melhor que ele se «dê todo á oração ou que vá pelo mundo a pregar»: leva os seus motivos para uma e para a outra, confronta-se com os seus frades, também com Clara e frei Silvestre, para compreender melhor qual seja a vontade de Deus (cfr. Legenda Maggiore XII,1-2, FF 1203-1205).
O discernimento é um percurso que não se improvisa, mas exige atenção à realidade que estamos vivendo, bons critérios para o enfrentar e um confronto humano, mesmo permanecendo a escolha pessoal e que não se delega a outros.
«Messaggero di sant’Antonio»!
Data de publicação: 01 outubro 2024
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