“Fazer as coisas com o coração”: o segredo do Evangelho

O Senhor Jesus leva-nos ao coração.

Ao coração da nossa experiência dele, de fé, ao coração da nossa experiência humana. E não só no sentido que nos leva ao centro, ao ponto mais importante, ao nó central que rege tudo o resto, que dá sentido a tudo o resto. Mas também no sentido que este centro é precisamente o coração, este centro é o amor. “Fazer as coisas com o coração”, poder-se-ia dizer, é o segredo do Evangelho.

Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» Jesus disse-lhe:

Amarás ao Senhor, teu Deus,

com todo o teu coração,

com toda a tua alma

e com toda a tua mente.

Este é o maior e o primeiro mandamento.

O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.»

Aqui está, Jesus já nos disse tudo nestas poucas palavras: ama a Deu, ama os outros como a ti mesmo. O que é que há a acrescentar? Tudo muito simples.

E, contudo, todas as coisas mais simples, todas as coisas mais verdadeiras da vida, são ao mesmo tempo simples mas também difíceis, não imediatas. Por vezes parece-nos ter compreendido tudo, que seja uma lição fácil, e afinal no que diz respeito à escola do amor estamos ainda ali a debater, devemos ainda e sempre aprender tudo, somos desajeitados, continuamos a cometer erros, e somos mesmo como crianças da primeira classe.

Então coloquemo-nos na escola de Jesus, a escola do amor. Uma escola que como todas as escolas é feita de três coisas: um livro, um professor, alguns 

companheiros. E, no entanto, este livro, este professor, este grupo de companheiros são muito particulares, muito estranhos.

Existe o livro, o Evangelho. E, no entanto, este livro de escola é um pouco estranho: não é manual, não existe o libreto de instruções para amar. Gostaríamos de o ter. Gostaríamos de ter claro o que fazer, como fazê-lo, quando fazê-lo, e uma vez feitas todas as passagens como indicado no livro, então ter o resultado: 20 na pauta! Os fariseus procuravam isto, porque ter regras claras, observá-las formalmente, faz-nos sentir ao seguro: “sou um bom aluno, não corro o risco de ter más notas, …”.

E, no entanto, mesmo se pudéssemos fazer assim, isto me deixaria igual a antes: o que é que aprendi eu se simplesmente repito como o papagaio aquilo que ouvi, se me limito a aplicar a formuleta? Um “amar” (coloco-o entre aspas) assim não transforma ninguém, não cria nada, não salva ninguém, deixa tudo como dantes. Aliás deixa tudo pior que antes: liga dentro regras e regrinhas e cria um “amor” asfixiante em vez de libertador!

Ao invés o nosso livro não é manual. É uma história. Conta a história de amor mais bela de sempre, aquela entre Deus e o seu povo, entre o Senhor e eu, e tu. Porque é nas histórias que nós formamos a nossa humanidade, desde crianças! São as histórias que nos transformam por dentro. E então para aprender a amar há que nos contarmos e continuar a contar-nos a história do Amor maior, o de Deus por nós.

Isto sim que nos muda, isto cria novidade, isto liberta, isto plasma-nos e ensina-nos a amar. Então passemos de um livro que suga energias e nos cansa a estudá-lo, a um que nos dá força e vitalidade, todos os dias sempre nova! E bendito este livro!!!

É estranho o nosso professor. Um professor normal mete no centro a matéria, ele é só um instrumento. Este mestre ao contrário pede-te para pores no centro a ele mesmo: Ama a Deus (isto é o próprio Mestre, “Ama-me” poderia dizer-se) com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente (“com todas as forças” diz o livro do Deuteronómio, que Jesus cita).

É um Mestre que pede para ser posto no centro, para ser posto no “coração” da nossa vida. E pede que este amor seja absoluto, que envolva tudo de mim, tudo aquilo que sou, todas as dimensões d aminha vida, todo o meu coração, todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas forças, as minhas decisões… tudo!

É assim que este Mestre nos ensina a sua matéria, mostrando-nos uma coisa evidente: o amor é do tudo ou não é. Não se pode amar um pouco, amar um pedacinho. O amor verdadeiro é com tudo aquilo que sou, que somos!

Se o nosso professor é assim, e se esta é a regra do amor, então também os companheiros não poderão ser apenas acessórios, ali por acaso.

São plenamente parte em causa das lições, porque aqui se trata de amar a Deus (o Mestre) e amar o próximo, os companheiros precisamente, os irmãos/irmãs de caminhada.

E a coisa interessante é que as duas coisas não entram em conflito entre elas, porque, diz Jesus, são “semelhantes”, existe uma analogia, dinâmicas que se apelam, entre o amor de Deus, o amor por Deus, e o amor entre nós.

E aliás aquele primeiro mandamento torna-se a “regra” com que verificar o segundo: eu amo bem, com o coração, os irmãos, se os amo como Deus. caso contrário corro o risco que o meu “amor” se torne possessivo, interessado, sufocante, para minha vantagem mais que a vantagem do outro. Então esta é uma escola diversa, não onde estou eu no centro, mas onde o outro está no centro.

Então volta-se à síntese inicial, aquela das palavras simples e eficazes de Jesus. “Viver com o coração”: amarás. É no futuro: é o nosso único futuro possível. Amarás, o único futuro possível para esta humanidade, o único futuro possível diante das guerras que parecem comer-se o mundo, diante da crise climática que mete em “talvez” todos os projetos futuros. Amarás. O futuro ou está aqui, ou não está.

Bom caminho a todos.

de fra Nico Melato

 – franico@vocazionefrancescana.org

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