Já chega de ter medo: ama!

Estamos todos imersos no medo. E, no entanto, bastaria abrir os olhos para descobrir que tudo aquilo de que precisamos já está nas nossas mãos: amados para amar, o segredo de uma vida!

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos esta parábola: «Será também como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu. Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas. Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: ‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.’ O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’ ‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’»

Mt 25,14-30

“Tive medo!” ouvistes o que diz o terceiro servo? “Tive medo!”. Talvez tenhamos ouvido mil vezes esta parábola…, mas hoje queria que nos detivéssemos sobre isto: “tive medo!”.

Porque me parece que hoje nós, todos, vivemos cheios de medo. Porquê? Pelo menos por dois motivos.

Hoje quando olhamos para a vida que temos na frente, as possibilidades que nos são oferecidas … ficamos atrapalhados, todos! Se olharmos para o futuro, o que é que vemos? Provavelmente vemos só destroços, destroços de um mundo que tinha prometido poder ser melhor e afinal parece que esteja miseramente falindo.

O futuro é tremendamente incertoa geração antes da nossa via o mundo que ia para o melhor, via que a economia crescia, que havia trabalho, que se podia até ir para a reforma (incrível!), que se alguém tinha uma ideia, podia tentar, e se corria mal, tinha ainda tempo para tentar uma outra coisa…

A nossa geração ao invés, vê à sua volta um mundo que por vezes nos parece à beira de um abismo: a economia, o bem estar, o trabalho, parece que tudo se esteja parando, o mecanismo esbarrou-se; as guerras, o clima… tudo diante de nós é incerto e em rapidíssima evolução: como será o mundo daqui a 5 anos? Daqui a 10 anos? Eh certo que mete medo lançar-se, pôr-se em jogo num mundo assim.

Mas há uma segunda coisa que nos mete medo, que nos bloqueia: tudo à nossa volta (até nós próprios!) é ago que nos questiona. Tudo nos pede para estar no top, para ser quem sabe quem, e quem sabe o quê. Ou és o melhor, ou então não vales nada. E não mete medo? Bolas se mete medo!

É melhor estar a olhar, melhor estar a esperar… melhor esconder na areia as nossas potencialidades, as nossas possibilidades, aquilo que nos foi dado. Melhor esconder na areia o nosso tempo, as nossas energias… melhor esconder a nossa cabeça na areia; não pensar, por caridade, não pensar!

Isto sobe por nós acima. E, contudo… e, contudo, existe uma outra realidade. Bolas, se existe uma outra! Há uma outra realidade, que é muito maior, muito mais potente, muito mais verdadeira e real que esta!

Sim, precisamente este mundo que está à nossa volta, pode se olhar de modo totalmente diverso. Nós olhamos e vemos destroços … mas há um outro que vê outra coisa …

“Eu vejo fumo sobre os destroços, tu olhas para o mesmo ponto e sorris!”

Ligabue, “Luzes d’América”

Porque é que quando Deus nos vê, olha o nosso mundo, sorri? Porque é que Deus faz assim? Porque é que Deus continua a apostar sobre esta humanidade? Porque é que Deus continua a chamar-me “filho”, porque é que Deus a fazer-me “filho”? Porque é que Deus acredita em mim? Porque é que Deus pensa que eu valho assim tanto?

Porque somos preciosos aos seus olhos. Porque fomos comprados a caro preço! Porque desde o dia do batismo nós somos filhos de Deus, nós fomos enxertados numa lógica que vira ao contrário qualquer outra lógica!

Qual futuro incerto, qual juízo (“deves ser isto”, “deves ser aquilo”): eu sou filho de Deus! eu fui criado belíssimo/a, eu fui salvo! Os meus ouvidos ouviram Deus sussurrar-me o seu “effatà”, os meus olhos viram Deus olhar-me com amor!

Então muda tudo: então “não tenhais medo”, peço-vos, “não tenhais medo, eu estou convosco, todos os dias até ao fim do mundo!”. E então abre os olhos, abre os ouvidos, abre os lábios. Abre as mãos. Sim, tu que estás lendo agora, abre as mãos por favor.

Olhas as tuas palmas: o que vês ali? Ali não há nada. E, no entanto, há tudo. Ali está a possibilidade do tempo que o Senhor te deu, da vida que o Senhor te deu, dos carismas que o Senhor te deu. Ali está a possibilidade de amar, de apertar, de acariciar, de cuidar, de apoiar, de ajudar, de suster, de criar, de libertar…

O dom de Deus é tudo aquilo que temos na mão. E é livre: faz aquilo que quiseres! Mas usa-o, peço-te usa-o! Temos na mão já tudo aquilo que nos serve, estamos dentro da lógica do amor! Não a escondamos por baixo da terra, não cedamos ao medo!

A quem tem, será dado, e será em abundância”: certo, porque o amor se multiplica e nunca acaba! “A quem não tem, será tirado até aquilo que tem”: certo, porque escondendo a tua vida por baixo da terra, a perdes e a dispersas…

Então o problema não é ser maus ou preguiçosos… somo-lo todos um pouco! O problema é o medo, o medo que vem de um olhar míope sobre o mundo, que vem de uma relação errada com Deus.

A diferença não é que eu seja capaz ou menos, se o futuro seja prometedor ou não, se a estrada é direita ou em subida! A diferença é se o Senhor está comigo ou não. Melhor: seguramente ele está comigo, ele faz a sua parte! Mas eu? Estou? Faço a minha parte?

Usa aquelas mãos! Usa-as, te peço, não tenhas medo! Porque são mãos de filho/a amado/a, e não precisamos de mais, se não de partilhar este amor!

Bom caminho a todos.

fra Nico

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