Oração … em Cristo, com Cristo e por Cristo #6

Pequeno percurso sobre a oração #6

Fevereiro é um mês estranho, ou pelo menos eu sinto-o como tal. É mais ou menos … Um tempo “no meio” então, podemos defini-lo assim hoje, que nos deixa um espaço adequado para pensar no nosso presente, no nosso aqui e agora, sem ser muito al pendentes para o passado e/ou o futuro.

Ao dizer-nos “onde estamos”, como “nos sentimos”, é, portanto, obrigatório considerar também aquela dimensão da oração que nos está a acompanhar na reflexão mês após mês.

Como de resto já refletimos sobre o “destinatário” da nossa oração, sobre a identidade do sujeito a quem nos dirigimos quando temos as mãos juntas, é necessário parar para nos perguntarmos também qual seja a nossa posição diante daquele que rezamos.

Com “posição” refiro-me àquela condição existencial na qual nos colocamos para interagir depois com Deus, para lhe falar. É verdade que nem todos partilhamos o mesmo lugar nem, muito menos, o ponto de vista assumido na oração é o mesmo por toda a vida para cada pessoa.

Tentemos pensar um pouco: de vez em quando acontece de rezar porque nos sentimos vítima de alguma injustiça ou então de ser necessitados de alguma coisa que nos falta; às vezes rezamos para receber perdão, reconhecendo-nos culpados por um mal realizado, enquanto outras vezes rezamos movidos pelo reconhecimento por um dom recebido.

Ainda mais interessante seria o olhar a posição real que ocupamos em relação a Deus quando rezamos: somos-lhe “fisicamente” próximos? 

Ou estamos-lhe distantes? Colocamo-nos no seu mesmo nível ou antes nos pomos em inferioridade em relação a ele? Ou rezamos-lhe colocando-nos até acima dele, dizendo-lhe o que deve fazer e porquê? Pode ser, pois, que na oração nos dirigimos a Deus como indivíduos (com as nossas coisas pessoais a dizer-lhe), como parte de um grupo (comunicando-lhe preocupações “coletivas”) ou então no lugar de um outro/de outros (quando intercedemos por alguém, colocando-nos entre ele/ela e Deus).

Isto narrado até aqui não quer ser um exercício abstrato e sofisticado, mas sim um modo simples para reconhecer o nosso modo de entrar em relação com Deus, de modo a compreender quem somos (tanto quanto pensar a “quem” rezamos nos diz daquilo em que acreditamos).

São Francisco, mesmo sem o saber, cresceu pouco a pouco nesta tomada de consciência precisamente através da oração, que se torna assim para nós uma experiência transparente e luminosa de fé. Damo-nos conta lendo uma oração que o santo de Assis escreveu no final da primeira Regra (dita “não bulada”): o capítulo 23 tem o título “Oração e ação de graças”, mas poder-se-ia dizer também só “ação de graças” dado que este aspeto constitui o tom de todo amplo texto. É uma oração dirigida ao «omnipotente, santíssimo, altíssimo e sumo Deus, Pai santo e justo, Senhor Rei do céu e da terra» (aqui em baixo podes encontrar o texto completo).

Uma primeira indicação: Francisco, através da experiência amadurecida da oração, dirige-se não a Deus entendido genericamente, mas sim ao Pai. Além disso a estrutura da oração, mais que de preferência articulada, parte de uma ação de graças em que o sujeito somos “nós” (Francisco sente-se não mais como individuo, mas como comunidade, como Igreja que reza através dele) que damos graças a Deus pela história da salvação: a criação, a incarnação e a vinda final de Cristo, para chegar assim àquele que é talvez o coração do próprio texto:

«E, pois, que todos nós miseráveis e pecadores não somos dignos de te nomear, suplicantes pedimos que o Senhor nosso Jesus Cristo teu Filho dileto, no qual puseste a tua complacência, juntamente com o Espírito Santo Paráclito te dê graças assim como a ti e a ele agrada, por todas as coisas, ele que te basta sempre em tudo e pelo qual a nós fizeste coisas tão grandes. Aleluia».

Se até agora o sujeito da ação de graças eramos nós, agora, pedimos se torne ele, o Filho dileto. Reencontramos aquele papel central de Cristo que é o único perfeito sacerdote da nova aliança: Francisco põe-se a rezar na posição do próprio Cristo, através dele.

A grande ação de graças da oração depois continua alargando-se à Igreja celeste, da qual são enumerados os componentes já bem-aventurados: essa dá incessantemente graças a Deus. A atividade única até aqui mencionada, a ação de graças, é realizada por sujeitos diversos: primeiro nós, depois no centro Cristo com a sua perfeita ação de graças, e com ele toda a Igreja celeste.

Une-se por fim a Igreja terrena com todos os homens. Emerge uma ampla dimensão eclesial, que chega a abraçar «todas as nações e todos os homens de todas as partes da terra, que são e que serão», superando também os confins visíveis da Igreja.

Em conclusão, sublinhamos que o Pobrezinho é capaz de se pôr em oração, diante de Deus, na posição de quem recolhe tudo e todos só porque profundamente unido a Cristo. Unicamente Jesus, primeiro e mais que qualquer outro, se colocou diante do Pai em favor de toda a humanidade.

Eis então o lugar que toca também a nós para viver uma experiência de oração autenticamente cristã, independentemente da dignidade pessoal. Unidos a Cristo, através dele, podemos de verdade relacionar-nos com Deus de modo novo e profundo. Não mais personalidade individuais interessadas em si, mas um envolvimento que matura uma relação profunda e íntima com Deus.

fra Andrea Bosisio

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