A graça da oração … franciscana! Pequeno percurso sobre a oração #1
Oração … um ponto de partida…Pequeno percurso sobre a oração #2
Quantas vezes a vida nos faz passar através de momentos escuros, momentos de obscuridade? Mesmo do ponto de vista meteorológico, a terra atravessa um tempo no qual as trevas se adensam, a noite se alonga.
São aqueles momentos da vida em que fazemos mais fadiga a ousar esperança e a compreender que passos dar, momentos em que nos apanha a desconfiança e a resignação, ou então pior, a ânsia e o medo.
Às vezes acontece até que venham menos os nossos pontos de referência: «não será deixada pedra sobre pedra que não seja destruída» diz o Evangelho, e mesmo o sol, a lua e as estrelas se apagam, como se o céu não fosse mais legível, como se as letras da página de um livro de repente se misturassem.
É, vendo bem, uma imagem que recorda o caos primordial, como se a obra da criação querida por Deus fosse repentinamente posta em desordem. Isto seguramente nos diz que a obra que é realizada pelo mal (desfaz, cria confusão) mas nos diz também algo sobre aqueles cruzamentos das nossas vidas em que experimentamos o fracasso, a queda dos projetos e das expectativas que tínhamos planeado, que seguíamos com o fim de nos realizarmos. É então indispensável operar um bom discernimento, uma escuta da nossa vida, para não nos deixarmos enganar pelo inimigo e para seguirmos fielmente o Mestre, como verdadeiros e próprios discípulos.
Uma experiência do género foi também a de Francisco d’Assis: sempre colocando-nos no inicio da sua “conversão”, vemo-lo jovem inquieto na cidade natal, depois do falhanço da guerra contra Perugia (pelo que vive quase um ano de prisão) e depois o abandono das expedições militares com que pretendia obter o titulo nobre reservado aos cavaleiros envolvidos nos combates da Cruzada na Terra Santa.
Depois dos projetos de glória, transtornados por sonhos em que Deus o interroga sobre o sentido de servir o ervo mais que o Senhor, Francisco volta a casa de mãos vazias e com o escuro dentro de si. Reconhecida a vaidade das suas expectativas, não tem ainda, porém nenhuma luz sobre a estrada que agora ele deve percorrer.
Assim, com tais sentimentos, não pode não se meter a rezar, esperando longamente de receber uma orientação para o seu futuro. As palavras que o Pobrezinho dirigia a Deus naquela hora, chegaram até nós com o título de “oração diante do Crucifixo”:
Ó alto e glorioso Deus,
ilumina as trevas do meu coração, e dá-me fé reta, esperança certa e caridade perfeita, sentido e conhecimento, Senhor, que eu possa a tua santa e verdadeira vontade.
Ámen.
Uma vez mais Francisco nos espanta pela sua capacidade de manter unido o “tudo” do homem! As luzes que ele pede a Deus de facto não são destinadas a exaltar um conhecimento mais alto do Senhor, mas estão finalizadas claramente a um “fazer” que possa corresponder à vontade divina, a uma vida prática.
Além disto vale a pena notar como estejam também ligadas entre si a dimensão afetiva (o coração) e a intelectiva (o conhecimento).
Em suma aqui o Santo de Assis nos oferece, através da sua oração, um rasgo precioso para descer na profundidade da nossa oração.
Diante do escuro da nossa vida é-nos indispensável pedir para ser iluminados, e não podemos não o pedir a Deus, também suplicando aquelas virtudes que são próprias de Deus e que nos tornam capazes de viver em relação com a mesma Trindade. Mesmo no estado de obscuridade interior, portanto o homem de Deus, o cristão discípulo, não se quer afastar da comunhão com o Altíssimo, mas antes, interpela com mais força a graça para obter poder novamente agir em conformidade à vontade de Deus. Daqui seria interessante refletir:
- Qual é o desejo que habita a minha oração?
- Que coisa peço eu na oração?
- Reconheço no escuro a possibilidade de um anova comunhão com Deus?
O tempo do Advento nos ajude a recordar então esta promessa: precisamente nos tempos escuros, nos tempos de confusão e agitação, o Senhor continua a vir à nossa história pessoal e comunitária! A Advento nos recorda que o Senhor já veio (ventum) até (ad) nós e continua a vir ao nosso encontro até ao fim dos tempos.
Conscientes que, porém, entre a promessa e a sua realização estão as nossas noites, deixemos que o modo como permanecemos na obscuridade nos revele a nós mesmos, dizendo-nos quem somos e que relação temos com aquele que esperamos.
Sabendo que o modo como vigiamos na noite revela quanto confiamos naquele que nos prometeu que iria voltar, podemos realizar todos um bom caminho de advento… na oração!
Frei Andrea Bosisio
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