Os estigmas no meu coração…
Fui crucificado com Cristo e já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Na verdade, eu trago os estigmas de Jesus no meu corpo
(Gal 2,20; 6,17)
O santo, no monte Alverne, teve a coragem de pedir precisamente isto nas suas noites de oração, de solidão e de êxtase: sentir um pouco do amor e da dor que Jesus Cristo sentiu nos momentos da sua Páscoa de Morte e Ressurreição. Foi atendido e, à volta da Festa da exaltação da S. Cruz (17 setembro), o seu corpo foi marcado pelas mesmas chagas do Crucificado.
Nunca a história tinha narrado um facto semelhante. Cerca de vinte anos antes (1205/6) tinha começado a seguir o Evangelho do Senhor ouvindo a Palavra do Crucifixo de S. Damião. Aquelas palavras e aquela imagem tinham-se-lhe gravado no coração. Agora manifestavam-se na sua carne, no seu próprio corpo.
Caro jovem que procuras ouvir o chamamento divino para a tua vida…: observa também tu e imita a estrada indicada por S. Francisco!
Ele foi de tal modo “amigo de Cristo” ao ponto de querer ser em tudo semelhante e transformado Nele; na verdade “um outro Cristo”.
E o Senhor atendeu-o.
Caríssimo, seria belo que este acontecimento misterioso dos estigmas te interrogasse também a ti sobre a direcção do teu coração, sobre os teus desejos mais profundos, sobre os “estigmas” que queres que marquem e firam também a tua carne.
Sobretudo se cultivas em ti ou percebeste como possível a vida e a escolha franciscana, recorda que a meta é “ser como S. Francisco”, também tu um “alter Christus“, um “novo Jesus Cristo” entre os homens desta pobre e estupenda humanidade.
E não te sintas sozinho sobre esta estrada!
Trata-se de um chamamento apaixonante e audaz, que ainda ressoa no coração de muitos.
Uma bela reflexão sobre os Estigmas de S. Francisco
de Felice Accrocca
No Sacro Convento de Assis, na capela das relíquias, conserva-se um pequeno pergaminho que contém, em ambos os lados, dois breves autógrafos de Francisco merecidamente famosos: trata-se dos assim chamados Louvores de Deus Altíssimo e da Bênção a frei leão. Segundo quanto atesta Tomás de Celano, o Santo escreveu aquelas palavras no monte Alverne para conforto de um dos seus companheiros, chamado e enfrentar uma forte tentação.
Tomás não refere o nome do destinatário, mas é o próprio destinatário – afortunadamente – a dar-nos notícias preciosas: escreveu-as no pergaminho, no lado que refere a Bênção. Na parte alta, ele atesta: «O bem aventurado Francisco dois anos antes da sua morte fez no “lugar” do Alverne uma quaresma em honra da bem aventurada Virgem Mãe de Deus e do bem aventurado Miguel Arcanjo, desde a festa da Assunção da santa Virgem Maria até à festa de S. Miguel de Setembro; e desceu sobre ele a mão do Senhor: depois da visão e as palavras do Serafim e a impressão dos estigmas de Cristo no seu corpo, fez estes louvores escritos no outro lado do pergaminho e escreveu-os com a sua mão, dando graças a Deus pelo beneficio que lhe fizera». É bom precisar que nos últimos tempos da sua vida, Francisco teve que suportar, por mais de dois anos, uma grandíssima tentação. Os seus companheiros contam que, enquanto se encontrava na Porciúncula, caiu numa «gravíssima tentação do espírito». Desde aquele momento não conseguia mais mostrar-se alegre como era normalmente, tornou-se de forma fora do normal melancólico, isolava-se dos outros, na oração abandonava-se com frequência às lágrimas, pedindo ao Senhor que o ajudasse a superar aquele momento terrível. O mesmo lhe aconteceu no monte Alverne, quando recebeu os estigmas.
Também Francisco teve, portanto, o seu Getsémani. Como todos os grandes místicos, depois de ter subido aos cumes vertiginosos da união com Deus, foi-lhe pedido para atravessar a noite escura do espírito, durante a qual lhe pareceu que o Senhor se calasse, que não respondesse ao seu grito de angústia.
No final daquele caminho ele obteve no Alverne a resposta às suas dúvidas: na experiência extraordinária que o teria unido profundamente àquele Deus que tanto tinha sofrido por ele, compreendeu definitivamente que só a cruz podia caracterizá-lo de modo total e definitivo como verdadeiro seguidor de Cristo. Em tal caso, os estigmas seriam cronologicamente colocados como superação definitiva das tentações que o tinham atormentado por alguns anos. Tratar-se-ia da resposta evidente de Deus depois de um doloroso periodo de ‘ausência’.
O «beneficio» recebido, de que fala Leão, poedria por isso consisitir não só e não tanto na impressão das sagradas feridas no seu corpo, mas no dom – imenso – de uma paz interior reeencontrada, que lhe fazia aceitar com serenidade também situações que antes tinham sido causa de tentação.
Como nunca antes, nos Louvores de Deus Altissimo Francisco invoca Deus como defesa e reparo, o que parece confirmar a sua precedente situação de dificuldade: tentado e assediado pelo inimigo, ele individuava no Altissimo a sua âncora de salvação. A libertação obtida, dom de Deus que colocou sobre o seu eleito «o último selo» (DANTE, Paraiso XI, 107), foi para Francisco um verdadeiro renascimento.
Os estigmas, portanto, imprimiram no corpo do Santo não somente os sinais da Paixão do Senhor, mas restituiram a Francisco um coração libertado, um coração que tinha experimentado a força de um Deus que é «refúgio e força, ajuda sempre próxima nas angústias» (Sal 46, 2).
Como as suas, também as nossas feridas, aquelas que mais nos fazem sangrar, possam tornar-se fendas através das quais o Espirito do Senhor faça penetrar em nós a sua paz…
Felice Acrocca
tirado de sanfrancescopatronoditalia.it
tradução, fr. zé augusto