Pastoral juvenil: um desafio?

Formação franciscana – inspirações

Aconselho, pois, admoesto e exorto os meus frades no Senhor Jesus Cristo, que quando vão pelo mundo, não briguem e evitem as disputas de palavras e não julguem os outros; mas sejam dóceis, pacíficos, e modestos,  mansos e humildes, falando honestamente com todos, assim como convém [1].

Pensei por um pouco de tempo em como a nossa espiritualidade franciscana possa ajudar os jovens de hoje, o que é que pode oferecer à sua vida?

Provavelmente o tema poderia ser considerado também em relação com outras realidades pastorais, não só ligadas aos jovens.

Os operadores pastorais encontram muitas realidades em comum entre as várias idades. Todavia, podemos notar que a pastoral juvenil tem uma sua especificidade. Porquê? Porque quando uma pessoa está na idade da adolescência e juvenil, começa a amadurecer. Neste período forma-se a sua identidade, descobre o sentido e o objetivo da sua existência, os espaços em que se quer realizar, desenvolve-se fisicamente, e também sexualmente.

A influência dos pais diminui, enquanto aumenta a do ambiente externo, incluídos os coetâneos e a moda dominante. Os jovens são sensíveis quando se trata de aceitação: temem particularmente a rejeição. A aceitação da parte dos outros é de grande importância para eles. Esforçam-se por cumprir as tarefas onde se identificam e querem ser considerados adultos, sito é em condições de tomar as próprias decisões. Ao mesmo tempo, têm dificuldade em renunciar a algumas formas de dependência dos pais ou dos tutores. Em ermos de estilo de vida, valores e ideais, os jovens procuram a independência e aquilo que consideram próprio, aquilo em que se encontram.

Por outro lado, muitas vezes inconscientemente, dependem muito dos média, adotam acriticamente opiniões e modelos populares. De consequência, não deveria surpreender que tendam a rejeitar os costumes, as tradições, e a religiosidade recebidas dos pais ou da sociedade.

Em caso de problemas, tendem a procurar ajuda e apoio nos coetâneos, possivelmente on-line; é menos provável que se dirijam a um pai, a um professor ou a um sacerdote. Em geral, este é também o período de tantas escolhas de vida importantes para o futuro, como a especialização, o trabalho, a família, mas também a vocação.

Penso na necessidade de uma particular sensibilidade em relação aos jovens, pelo facto que a atual geração é muito diversa daquela em que nós crescemos. Se olharmos para os jovens de hoje em termos de crenças em geral, estes podem ser definidos como geração “Z” [2].

Caracterizam-se como a geração “tranquila”, aberta a novos contactos e ideias, que privilegia as atividades na internet, presente nas redes sociais, curiosa do mundo, um pouco instável quando se trata de compromissos permanentes, que experimenta dificuldades nas relações reais e no mundo real.

Dado o meu limitado contacto com os jovens, perguntei a um amigo como chegar aos jovens de hoje, do que precisam. Em resposta, soube que recentemente misturou repolho azedo, pimentos verdes, cenouras vermelhas e a abobora. Obteve um prato surpreendentemente saboroso, por uma combinação fantasiosa de ingredientes populares.

Quando partilhou esta experiência com o cozinheiro do Convento, este último falou-lhe da existência da cozinha molecular. Esta utiliza ingredientes comuns, mas o modo como são cozinhados e combinados produz novos sabores originais.

Penso que há séculos temos os mesmos ingredientes pastorais comuns, só que às vezes temos o problema de como misturá-los e de como servi-los para obter qualquer coisa que delicia e atrai[3].

Portanto surgem em mim algumas questões: que coisa tem um bom sabor para os jovens, que coisa usar e como fazê-lo?

No terceiro capítulo da Regra bulada, São Francisco diz-nos que ingredientes usar. O ponto central deste capítulo é que nós franciscanos devemos estar na igreja, rezar e jejuar. O fruto será uma natural capacidade de levar a paz a todo o lado: sem brigas, sem julgamentos, com humildade, gentileza e cortesia[4].

Estes serão os ingredientes do prato necessário nos vários tipos de pastoral que realizamos, como também na nossa vida e nas nossas relações em comunidade.

Isto vale sobretudo para os jovens confrades, porque impede a confusão do papel que o pastor deve realizar nas relações com os jovens. Por outras palavras, respirando o espírito da Santa Igreja e jejuando, será mais fácil para nós recordar que um franciscano não é um colega, não é um pai, não é um companheiro de vida ou um líder narcisista que atraias multidões a si.

Estou convencido que será importante para os jovens fazer aquilo que é importante também para outros grupos sociais: ser um frade que é amigo de Deus.

Mas como partilhar a fé com os jovens, isto é, como e com que meios servir um prato preparado otimamente? Descobri-lo-ão sobretudo queles frades que souberem estar perto dos jovens.

Fra Piotr STANISŁAWCZYK, OFMConv

Delegado geral para a formação


[1] Rb 3, 10-11 FF 85.
[2] Cf. Wikipédia, Geração Z, https://it.wikipedia.org/wiki/Geração_Z, 19.08.2023.
[3] Texto completo in: Piotr Stanisławczyk OFMConv, Wy dajcie im jeść!, „Pastores”, 2023, n. 2 (99), p. 49-57.
[4] Cf. Zdzisław Kijas OFMConv, Reguła i życie. Czego dziś uczy św. Franciszek, Kraków 2022, p. 94-95.

(tradução de fr. zé augusto)

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