“Salvar o Planeta Começa ao Pequeno-Almoço” é o título de um livro de Jonathan Safran Foer onde o autor contraria a ideia de que a utilização excessiva de combustíveis fósseis na produção de energia e no setor dos transportes seja a principal causa das alterações climáticas. A conclusão, discutida em detalhe num dos anexos finais, é a de que, apesar da quantificação dos gases com efeito de estufa no setor da pecuária ser uma questão em aberto, pode-se certamente afirmar que esse é um setor com grande impacto.
Queremos perceber do que estamos a falar. Em média, um português consome aproximadamente 94 quilogramas de carne por ano (ourworldindata.org); há cinquenta anos este valor era três vezes inferior. O consumo mundial de carne per capita é atualmente 43 quilogramas por ano, um valor que tem em conta países com valores tão baixos como cinco quilogramas na Etiópia e tão altos como 122 na Austrália. Em matemática, se queremos baixar um valor médio, teremos de começar por baixar os extremos, onde Portugal e muitos países europeus se incluem.
Cenário A – Optamos por reduzir o consumo individual para a média mundial: 43 quilogramas por ano, 830 gramas por semana, 120 gramas por dia.
Cenário B – Tendo em conta que alguns países devem poder aumentar valores excessivamente baixos, reduzir ainda um pouco mais, por exemplo, para dois terços do valor médio, o que equivaleria a 80 gramas por dia.
Mas que estratégias delinear para implementar este nosso compromisso?
Exemplos de Estratégias
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Escolher um dia por semana como um dia sem carne:
Internacionalmente, esta iniciativa é conhecida como o movimento da “segunda-feira sem carne”; sendo esse o dia de arranque da semana de trabalho ou escola, estamos mais alerta e mais firmes nas nossas decisões. Podemos também escolher a sexta-feira e conjugar a escolha com as raízes cristãs, prolongando a intensidade vivida na quaresma e a tradicional abstinência que a Igreja convida a viver durante todo o ano. -
Restringir a compra semanal de carne:
No talho ou no supermercado, ao limite máximo que estabelecemos para a nossa família, não esquecendo eventuais refeições tomadas fora de casa.
Experiência Familiar
Aqui fica a experiência da nossa família. À proposta de um dos nossos filhos adolescentes de se tornar vegetariano, respondi que essa decisão tem de ser acompanhada pela responsabilidade individual por cuidar das compras e das refeições, que serão certamente diferentes das dos outros membros da família. Surgiu, assim, a ideia de tornarmo-nos “vegetarianos” ao jantar.
Ao partilhar esta ideia com um dos meus colegas vegetarianos, recebi a seguinte resposta:
“Essa decisão tem ainda maior impacto, pois é melhor cinco vegetarianos parcialmente, do que um na totalidade.”
Esta frase reforça o lema de que conta mais a mudança de estilo de vida de muitos, ainda que de uma forma imperfeita ou incompleta, do que poucos perfeitamente. É importante ter em conta que o sucesso da mudança começa com o delinear de um plano, suficientemente acessível e que tenha possibilidade de perdurar no tempo.
No nosso caso,
“salvar o planeta começou ao jantar”.
Adaptado de Pegada Zero, Cidade Nova, Novembro 2021.