Uma meditação das Irmãs Clarissas

Das irmãs Clarissas de Borgo Valsugana, eis uma reflexão sobre o trágico momento que todos estamos vivendo com grande apreensão. 

 
Estamos imersos numa emergência que ninguém de nós pensava viver. Encontrámo-nos impreparados para enfrentar, mais ainda que a emergência Coronavirus, a evidência da nossa condição humana, tão indefesa, frágil e desarmada.
Como se, abatidas de repente as ilusões, a vida nos estivesse a lembrar que somos criaturas, ponto final e basta.

Todos igualmente criaturas, de norte a sul, de este a oeste. Os alarmes mediáticos, os alarmismos e as superficialidades, não conseguem cobrir o grande silêncio que se fez nos nossos corações.
É um silêncio vigilante e vital, pronto a saltar nos lábios como pedido de proximidade, de solidariedade e como imploração: “Miserere!”, o mesmo grito que Dante, na Divina Comédia, eleva no momento em que se descobre nu diante das consequências das suas escolhas. “Miserere, tem misericórdia” é o grito que se eleva silenciosamente consciente da nossa fragilidade. Aquela que o Filho de Deus assumiu e fez indissoluvelmente própria.
A oração que surge nestas semanas mete-nos nos lábios as palavras verdadeiras: “Do profundo a ti grito, Senhor…”. Não são palavras superficiais, são as palavras essenciais que sentimos corresponder profundamente àquilo que somos e vivemos.
dizemo-las porque sabemos que um Outro, o nosso Deus, Uno e Trino, as escuta. E mais: sabemos que estas palavras estão impressas na carne ferida e gloriosa do Filho. O Crucifixo está ali, pendurado nas paredes das nossas casas, que neste tempo se mostram por aquilo que são: igrejas domésticas, lugares onde a fé pode ser celebrada em pequenos gestos de dom, de atenção, de cuidado, de intercessão por todos e de reconciliação.

Sim, de reconciliação: precisamos sempre de perdão, dado e recebido, que volte a colocar no centro das relações o encontro e o abraço “como no céu assim na terra”. E que não esqueça aqueles que, menos afortunados que nós, se encontram a viver, além disto, também o drama da guerra e da fome.

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