Os oceanos têm estado a aquecer nos últimos anos, mas desde o ano passado que esse aquecimento se destacou e os cientistas atribuem a razão ao facto dos grandes navios de transporte estarem a poluir menos, o que parece ser um contra-senso.
No caminho para diminuir a poluição que prejudica a saúde humana, houve regulamentação para que os grandes navios fizessem parte deste esforço de diminuir o efeito da acção humana sobre o ambiente. No caso dos navios, o poluente onde mais de actuou foi o dióxido de enxofre. Porém, o facto de termos emitido esse poluente para a atmosfera durante muitas décadas, criou-se uma barreira à radiação solar que levou a que a temperatura dos oceanos encontrassem um certo equilíbrio. Por isso, ao remover o poluente, a barreira deixa de existir e os oceanos acabam por acumular mais calor do que seria habitual.
O problema da acumulação deste calor é a intensificação de fenómenos como os tufões que têm nos oceanos a sua fonte de energia. Logo, mais energia, maiores e mais perigosos se tornam os tufões. Por outro lado, o aumento da temperatura dos oceanos também afecta os corais que são uma enorme fonte económica das nossas sociedades. O contra-senso é que apesar de nos esforçarmos por poluir menos, continuamos a alterar o clima, lembrando o famoso dito: “preso por ter cão e preso por não ter”. A impressão que dá é a de que o melhor seria que o ser humano estivesse quieto, mas isso é impossível e apresenta um dilema à nossa acção ética: o que fazer quando o bem resulta num mal?
Desde o tempo de Newton que estamos cientes de que uma acção suscitará sempre uma reacção. Na teoria Gaia formulada por James Lovelock nos anos 1970, a Terra é considerada como um organismo que se auto-regula através da co-evolução dos organismos que nela vivem em interacção com o ambiente. Durante muitas década em que poluímos o ambiente, fomos transformando a face da Terra, o clima e o modo como os ecossistemas sobrevivem. Quando nos apercebemos do prejuízo para a saúde humana resultante da poluição, encetámos no caminho de corrigir a nossa tecnologia, alterando o menos possível os nossos estilos de vida. Contudo, apercebemo-nos de que isso seria insuficiente e também os nossos estilos de vida precisam de mudar. Por isso, quando todo o mundo começa a mudar, a Terra volta a estar em desequilíbrio e procura um novo equilíbrio. O problema está naquilo que em ciência chamamos de irreversibilidades termodinâmicas, isto é, o retorno à situação anterior é impossível.
Existe um princípio narrativo na evolução do universo que nos impede um retorno absoluto ao passado. Se uma acção gera reacção, uma reacção suscita novas reacções porque o movimento no mundo faz parte da experiência de tempo onde estamos imersos. Alguns poderiam usar a inevitabilidade do prejuízo sistemático da acção humana, mesmo quando procura corrigir um mal que fez, para justificar que o melhor seria continuar com o que tínhamos antes. A incerteza da nossa sobrevivência ao novo equilíbrio pode assustar as pessoas que poderiam pensar — «Mais vale poluir porque as partículas que enviamos para o ambiente bloquearão a radiação solar.» — fazendo com a poluição alguma geo-engenharia, mas isso levaria ao colapso inevitável da nossa extinção porque da poluição excessiva não sobrevivemos, enquanto que da ausência de poluição, mantém-se a nossa saúde para assegurar a actividade mental que nos leva às ideias que nos permitem adaptar ao novo cenário ambiental que se avizinha.
Em última análise, apesar da dor que advém de percorrermos o caminho certo, o segredo está na possibilidade de recomeçarmos sempre e acolher as inevitabilidades como desafios à criatividade.
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