Oração … uma declaração de amor nas nossas ressurreições

Pequeno percurso sobre a oração #8

E estamos ainda no tempo pascal: cinquenta dias nos quais fazer continuamente memória da ressurreição de Cristo, eco do período em que o Senhor ressuscitado se manifestava aos seus discípulos.

Mal podemos imaginar o que deve ter sido para os apóstolos poder ver ainda Jesus no meio deles, os olhares cheios de espanto, o coração que tem dificuldade em acreditar e que porem se reacende de ardor depois da grande desilusão da morte do seu Mestre.

A vida, ou melhor o Vivente, volta a animar aqueles homens amedrontados e fechados no Cenáculo: do medo e da perplexidade de ter errado tudo, de não ter compreendido nada, Cristo ajuda-os a tornar-se suas testemunhas consolando-os, confortando-os, abrindo-lhes a sua mente à compreensão das Escrituras e enviando-os novamente a anunciar quanto tinha acontecido no mistério pascal.

Uma experiência desconcertante, transformadora, que voltará a acontecer cerca de mil e duzentos anos depois a um outro homem, constrangido por aquelas que os seus biógrafos chamam a “gravíssima tentação”, entre os bosques do Apenino toscano.

A Cruz colocada diante do santuário do Alverne

Francisco, em 1224, precisamente há 800 anos, encontra-se no monte Alverne, depois de se ter demitido do cargo de guia e superior do grupo de frades que se tinha reunido à volta dele, sempre mais numeroso.

Francisco, autêntico interprete da fraternidade, está agora perturbado ao ponto de querer fugir da companhia dos frades, por causa das tensões e das mudanças que está vivendo a Fraternitas ao transformar-se em Ordem “institucional”.

Nesta noite existencial, através de uma experiência mística, o Pobrezinho vive a sua “páscoa”: da angústia de ter errado a compreender e viver a vontade de Deus sobre ele e sobre a sua experiência religiosa, passa a experimentar a alegria do encontro com o Senhor, que o confirma na sua missão também mediante o dom dos estigmas (acontecimento nunca até então verificado em nenhum outro homem).

Francisco torna-se o primeiro de quem se disse de maneira clara e inequívoca que «apareceu crucificado, levando no corpo as cinco chagas, que são verdadeiramente os estigmas de Cristo». De um ponto de vista teológico-espiritual é-nos difícil interpretar corretamente estes sinais, na medida que nos falta a interpretação direta do único autorizado a fazê-lo, que seria o próprio Francisco.

A sua voz, porém, chega-nos indiretamente do Alverne mediante a “Chartula”, um pequeno pedaço de pergaminho escrito em ambos os lados ainda hoje conservado na Basílica inferior de S. Francisco em Assis. Sobre ele estão escritas, pela mão de São Francisco, uma bênção dirigida ao amigo frei Leão e uma oração.

a “Chartula” de são Francisco vista do lado da bênção a frei Leão (em castanho a caligrafia de Francisco, em vermelho as anotações de frei Leão)

Algumas anotações acrescentadas pelo próprio Leão permitem-nos reconhecer os Louvores de Deus Altíssimo qual eco orante do evento do Alverne. Uma oração que atinge o cume altíssimo da contemplação:

Tu és santo, Senhor Deus único, que fazes maravilhas.  Tu és forte, Tu és grande, Tu és altíssimo, Tu és omnipotente, Tu, Pai santo, rei do céu e da terra. Tu és trino e uno, Senhor Deus dos deuses, Tu és o bem, todo o bem, o sumo bem, Senhor Deus vivo e verdadeiro. Tu és amor e caridade, Tu és sabedoria, Tu és humildade, Tu és paciência, Tu és beleza, Tu és segurança, Tu és descanso.

Tu és gozo e alegria, Tu és a nossa esperança, Tu és justiça e temperança, Tu és tudo, nossa riqueza e saciedade. Tu és beleza, Tu és mansidão. Tu és protetor, Tu és nosso guarda e defensor, Tu és fortaleza, Tu és refúgio. Tu és a nossa esperança, Tu és a nossa fé, Tu és a nossa caridade, Tu és toda a nossa doçura, Tu és a nossa vida eterna, grande e admirável Senhor, Deus omnipotente, misericordioso Salvador.

Temos a oportunidade também nós, olhando para este admirável texto, de retirar alguns traços para a nossa oração, tema que nos acompanha nesta série de artigos.

Em primeiro lugar, como dizíamos outras vezes, Francisco está de tal maneira imerso no mistério de Deus, do Deus Trindade, que é como se fossemos postos diante de uma concentração sobre o mesmo ser de Deus, expresso por inumeráveis atributos que tentam dizer a sua inefável essência, tornando incessantemente sobre aquele “Tu és”.

Se voltássemos a uma oração dos inícios, aquela diante do Crucifixo, aperceber-nos-íamos logo de uma diferença importante: se naquele texto Francisco pedia discernimento e dons significativos (as virtudes teologais), aqui no Alverne ele não pede mais nada, contempla apenas. Certamente os dezoito anos que ocorrem entre os dois textos falam-nos de um caminho de amadurecimento espiritual (nada acontece num só momento!) que toma o eu de Francisco e o leva quase a desaparecer e a ser absorvido no Tu de Deus.

Nos Louvores depois não existem referências a Cristo, precisamente porque, já notávamos, praticamente o Pobrezinho de Assis reza estando já na mesma posição do Filho e daqui, quase emprestasse a voz às Suas palavras, se dirige ao Deus, santo, ao Pai, ao Deus trino e uno.

A partir da oração então podemos verificar realmente a nossa capacidade de reconhecer em Deus a razão profunda da nossa vida: para além de todos os pedidos e as súplicas, quanto nos damos ao luxo de desperdiçar tempo e amor ao contemplar e explicitar aquelas características de Deus que nos fizeram sentir salvos dentro das nossas mortes, que nos fizeram “enamorar” dele? Quanto, em definitivo, fizemos nossa a ressurreição de Cristo, a sua maravilha diante do ser restituído à vida?

A “vertigem” do evento místico de Francisco, aquele seu ter-se tornado Alter Christus, seja de verdade ocasião também para nós hoje de fazer descer no profundo do coração a experiência da Páscoa, de modo a cantar com o coração transbordante a vida eterna que Deus está já explanando na nossa existência.

fra Andrea Bosisio

São Francisco recebe os estigmas

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