
13 março 2025
Caros amigos “sempre curiosos” da nossa vida franciscana, o Senhor vos dê paz. Hoje, quarta feira de cinzas, inicia a chamada “Quaresma Maior “.
A este propósito agrada-me pensar como São Francisco viveu com grande fervor este tempo de penitência, mas também como, em diversas circunstâncias do ano ele gostasse de se retirar para lugares apartados para ulteriores tempos de oração e jejum.
As ocasiões destas outras quaresmas estavam sempre ligadas a algumas festividades ou memorias litúrgicas de que o Pobrezinho era particularmente devoto. De facto, vivia bem cinco quaresmas durante o ano:
- a primeira era aquela do Advento: da festa de Todos os santos (1 novembro) até ao Natal (25 dezembro);
- a segunda depois da Epifania: da Epifania (6 janeiro) por 40 dias (FF 1163);
- a terceira era a “Quaresma Maior “: de quarta feira de Cinzas até à Páscoa;
- a quarta era aquela em honra dos santos Pedro e Paulo: desde a sua festa (29 junho) até à Assunção, a 15 agosto (FF 1167);
- a quinta era em honra de São Miguel Arcanjo (29 setembro): iniciava em 15 agosto, festa da Assunção (FF 785), até à festa de São Miguel (29 setembro); precisamente durante esta quaresma Francisco receberá os estigmas no monte Alverne (1224).
Frades em contemplação da cruz
As florinhas de São Francisco
As florinhas de são Francisco constituem uma maravilhosa e inigualável recolha de «milagres e exemplos devotos», concernentes à vida do Pobrezinho, vulgarizados no último quarto do século Catorze por um desconhecido toscano.
Essas oferecem – sem nenhuma pretensão cronológica, sem uma ordem pré-estabelecida –, as conversações de Francisco com alguns dos seus mais conhecidos companheiros (Bernardo, Elias, Egídio, Leão, Masseo, Clara, Rufino, Silvestre etc.), donde nascerão os mais altos ensinamentos franciscanos (a perfeita alegria, a pobreza, o amor pelas criaturas, a pregação aos pássaros, o lobo de Gubbio, etc.).
Aí encontramos sem dúvida gestos e palavras de Francisco que, na substância, podem considerar-se históricas ou de séria tradição oral mesmo se não faltam floreados lendários, e sobretudo uma visão e uma releitura altamente idealista e cândida e bem-aventurada do Santo, bem longe da complexidade que na realidade marcava a sua figura.
Isto, porém, nada tira às Florinhas o fascínio que desde sempre as acompanha. Certamente mais que outros textos biográficos, sabem transmitir-nos os motivos mais puros do franciscanismo, o candor do sentimento religioso de Francisco, a simplicidade, o ardor e a franqueza dos primeiros passos, constituindo, portanto, um apelo quotidiano aos frades sobre aquilo que é mais essencial e necessário.
Precisamente nas Florinhas encontramos a narração de uma das quaresmas de Francisco (cap. VII, FF 1835):
O verdadeiro servo de Cristo santo Francisco, porém, em certas coisas foi quase um outro Cristo, dado ao mundo para a saúde da gente, Deus Pai o quis fazer em muitos atos conforme e semelhante ao seu filho Jesus Cristo, tal como nos demostra no venerável colégio dos doze companheiros e no admirável mistério dos sagrados Estigmas e no continuado jejum da santa Quaresma, a qual ele se fez deste modo.
Estando uma vez santo Francisco no dia de carnaval no lago de Perugia, em casa de um seu devoto onde tinha ficado alojado de noite, foi inspirado por Deus que ele fosse fazer aquela Quaresma numa ilha do lago (Trasimeno).
Pelo que santo Francisco pediu a este seu devoto, que por amor de Cristo o levasse com a sua barca para uma ilha do lago onde não habitasse ninguém, e isto fizesse na noite do dia das Cinzas, de modo que nenhuma pessoa se apercebesse. E este, pelo amor da grande devoção que tinha a santo Francisco, solicitamente cumpriu o seu pedido e o levou para a dita ilha, e santo Francisco não levou nada consigo a não ser dois pães.
E tendo chegado á ilha, e o amigo partindo para regressar a casa, santo Francisco pediu-lhe encarecidamente que não revelasse a ninguém que estava ali, e não viesse para ele a não ser na Quinta feira santa. E assim aquele partiu; e santo Francisco ficou sozinho. E não havendo nenhuma habitação na qual pudesse descansar, entrou no meio de uma sebe muito cerrada, a qual tinha muitos espinhos e arbustos tinham arranjado à maneira de uma ninhada, ou seja, de uma pequena cabana; e neste lugar se pôs em oração e a contemplar as coisas celestiais.
E lá esteve toda a Quaresma sem comer e sem beber, a não ser a metade de um daqueles pães, segundo o que encontrou o seu devoto na Quinta feira santa, quando regresso a ele; o qual encontrou de dois pães um inteiro e meio; e o outro meio acredita-se que santo Francisco comesse por reverência do jejum de Cristo bendito, o qual jejuou quarenta dias e quarenta noites sem tomar nenhum alimento material.
E assim com aquele meio pão expulsou de si o veneno da vanglória, e a exemplo de Cristo jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois naquele lugar, onde santo Francisco tinha feito tão maravilhosa abstinência, fez Deus muitos milagres pelos seus méritos; coisa pela qual começaram os homens e edificar casas e aí habitar; e em pouco tempo se fez um castelo bom e grande, e é esse o lugar dos frades, que se chama o lugar da Ilha; e ainda os homens e as mulheres daquele castelo têm grande reverência e devoção naquele lugar onde santo Francisco fez a dita Quaresma.
A louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Ámen.
fra Alberto
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