Onde está Deus? Reencontrar a esperança dentro das nossas noites

Quem sabe quantas vezes aconteceu também a nós encontrar-nos à noite no nosso leito e não conseguir adormecer, virar-se e voltar a virar toda a noite, e a manhã seguinte nunca mais chega… quando há coisas que nos afligem, problemas, ânsias, fadigas, decisões a tomar, soluções que não chegam…

Do livro de Job (Job 7,1-4.6-7)

Job falou e disse: «A vida do homem sobre a terra, não é ela uma luta? Não são os seus dias como os de um assalariado?

Como um escravo suspira pela sombra, e o jornaleiro espera o seu salário, assim eu tive por quinhão meses de sofrimento, e couberam-me em sorte noites cheias de dor.

Se me deito, digo: ‘Quando chegará o dia?’ Se me levanto: ‘Quando virá a tarde?’

E encho-me de angústia até chegar a noite. Os meus dias passam mais rápido que a lançadeira e desaparecem sem deixar esperança.

Lembra-te de que a minha vida é um sopro, e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade».

Por vezes nós somos como Job, e podemos dizer como ele: “Estão-me reservadas noites de angústia. Se me deito digo “quando me levantarei?”, a noite torna-se longa e estou cansado de me girar até de madrugada”.

E dento destas noites angustiantes da nossa vida, dentro desta tristeza, desta angústia, desta ânsia, desta raiva… se calhar também a nós apetece dizer como a Job: “os meus olhos não voltarão a ver a felicidade”.

Se calhar também nós temos a tentação de perder a esperança, porque vemos que as coisas não se desbloqueiam, que tudo fica difícil, aliás, que piora, que há sempre mais uma…

Ou então, temos uma alternativa. Sim, por mais que estejamos encastrados no fundo das nossas existências, por mais que não haja diante de nós nenhuma via de saída, por mais que possamos estar desesperados, temos sempre uma alternativa, uma possibilidade que nada e ninguém, que nenhuma situação jamais nos poderá tirar.

Temos sempre a possibilidade de gritar, como o salmista: “Cura-me, Senhor, Deus da vida!” (Sal 146). Vem Senhor, precisamos de ti, tu és o Deus da vida, és o Deus que quer que tenhamos a vida, que a tenhamos em abundância, vem Senhor, vem depressa, cura-me, salva-me, vem em minha ajuda!

Pedir ajuda, ter a coragem de levantar os olhos ao céu já é um primeiro passo. Aliás, é o passo decisivo, talvez o único que nos é pedido para fazer, porque quando nós levantamos os olhos ao céu, quando temos a coragem de gritar a Deus, ele chega.

Sim, ele chega, chega logo, chega sem pretensões, chega mesmo s enão estamos prontos, se não estamos limpos, se a casa não está em ordem. Chega logo e entra na nossa vida. O Senhor vem, chega, sempre. Chega sobretudo dentro das nossas noites de insónia, dentro das nossas febres, dentro da nossa dor. Chega com o seu estar, com o seu dizer que o mal nunca é a última palavra, que Job tinha solução, que o teu olho poderá ainda voltar a ver o bem!

Sim, mas se não o vejo?

Então justamente podereis dizer: sim, é verdade, belo, porém tantas vezes eu não o vejo, tantas vezes eu chamo-o e parece-me que ele não responda. Como faço para o experimentar?

Esta é uma pergunta grande, a que cada um de nós é chamado a dar pessoalmente uma resposta. É uma pergunta que percorrerá toda a nossa vida e que somos chamados também a fazer diretamente ao Senhor: mostra-te, Senhor, faz-te encontrar, não me faças esperar mais!

Porém uma coisa queria partilhá-la convosco, uma sugestão que tomo de um versículo de são Paulo:

Tudo faço pelo Evangelho, para dele me tornar participante também eu (1Cor 9,23).

Paulo diz: “eu faço um monte de fadiga, gasto-me por vós, por todos, ando de um lado para o outro pelo império romano, levo o Evangelho, a boa noticia, que Deus existe, que Deus é a teu favor, que Deus te salva, que Deus vem a tua casa… eu faço tudo isto, porquê? “Para me tornar participante também eu”. Porque fazendo-o o experimento também eu na minha pele”.

Aqui há um paradoxo que, se o compreendemos um pouco, nos pode mudar a vida: se nós fizermos como Jesus, se nós somos para os outros incarnação daquele Deus que toma ao seu cuidado, então pouco a pouco experimentamos também na nossa vida que Deus de verdade cuida de nós.

Então devemos tomar como modelo a vida de Jesus, os seus dias, o seu modo de estar no mundo e de se relacionar com Deus Pai e com os irmãos: oração na sinagoga, relações em casa, ajuda aos outros, descanso noturno, oração pessoal, encontros pela estrada, tudo isto falando sempre da boa notícia (o Evangelho) e curando o mal, tomando ao seu cuidado (se leres o texto de Mc 1,29-39 encontrarás descrito precisamente o dia-modelo da vida de Jesus).

Se pouco a pouco este “estilo de vida de Jesus” se torna modelo para os nossos dias, então pouco a pouco veremos também nós que as nossas próprias feridas começam a sarar, que as nossas febres começam a passar, que as nossas noites começam a ser repousantes.

Porque levando o Evangelho, incarnando o Evangelho, “torno-me também eu participante”, como nos ensinou são Paulo, aquela boa noticia que levo aos outros experimento-a também na minha vida.

Que o Senhor nos faça este dom, hoje e todos os dias. E que nós tenhamos a força de escolher de pedir ajuda a ele de arregaçarmos as mangas.

Então florescerá vida nova para nós e para todos.

Bom caminho!

fra Nico 

– franico@vocazionefrancescana.org

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