Qual é a diferença entre um frade e um monge?

Existe diferença entre ser frades e ser monges? Ou será que se trata de dois sinónimos? Tentemos compreendê-lo juntos.

Muitas pessoas pensam que “frade” e “monge” sejam duas palavras intercambiáveis, dois sinónimos. Ao máximo percebem que se trata de pessoas diversas, mas que substancialmente levam uma vida totalmente semelhante. E afinal não mesmo assim. Entre monges e frades (assim como entre monjas e freiras) existe uma grande diferença!

Existem pelo menos três coisas que unem frades e monges (assim como freiras e monjas):

  1. Os frades e os monges são ambos membros de comunidades religiosas, são pessoas consagradas, que vivem o celibato (isto é que não se casam). Por este motivo ambos fazem os votos (pobreza, castidade e obediência) e vestem um hábito religioso (cuja cor e forma varia com base na ordem de pertença).
  2. Em ambos os casos vivem em fraternidade, em comum, em casas que são chamados conventos (no caso dos frades) ou mosteiros (no caso dos monges).
  3. Ambos levam uma vida simples e sóbria, dedicada à oração e ao trabalho, em serviço de Deus, da Igreja e da humanidade. Fazem-no, porém, com modalidades também muito diversas entre si.

Existem pelo menos 4 diferenças entre frades e monges:

  1. Uma história diversa, distante de muitos séculos.
  2. Um lugar de vida diverso: o convento ou o mosteiro.
  3. Atividades diversas, portanto, um “dia-tipo” diferente.
  4. Uma perspetiva diversa, entre “stabilitas” e “itinerância”.

Tentemos conhecê-las melhor uma a uma.

Em primeiro lugar a história. Simplificando muito pode-se dizer que o monaquismo foi sem dúvida a primeira forma de vida consagrada na Igreja, nascida já no IV século (desde 300 d.C.) primeiro no Oriente (com os “monges do deserto”) e depois no Ocidente (com são Bento).

O monaquismo foi assim a única forma de vida consagrada conhecida na Igreja, até 1200 (XIII séc.), e ainda hoje na Igreja Ortodoxa permanece a única forma existente.

Os frades ao invés nascem apenas em 1200 com são Francisco (o qual “inventa” o termo “frades”) e são Domingos, que tiveram a intuição de uma nova forma de vida consagrada, diversa da experiência monástica.

Portanto os monges existem há 1700 anos, enquanto os frades “somente” há 800 anos.

O lugar em que vive a comunidade dos monges é chamado mosteiro. O termo deriva do grego “monos”, isto é “uno”: o monge é aquele que tende à unificação, à unidade. A unificação de toda a sua vida, de todo o seu ser, à volta do único centro que é Deus.

No mosteiro tudo é ordenado para que o caminho de cada monge possa progredir nesta direção. Os mosteiros são por isso lugares fechados ao público (a famosa “clausura”, que, porém, tem várias formas e diversos graus de “severidade”), onde os monges podem viver ao reparo das distrações do mundo e da sociedade.

Portanto o mosteiro tipicamente tem no seu interior tudo o que é necessário (ou quase) e está rodeado por um muro, que simboliza a separação da vida comum da sociedade. Na realidade, porém, os mosteiros sempre tiveram um espaço de contacto com o mundo (chamado “hospedaria”), onde se ocupam de acolher as pessoas, ajudar os pobres, fazer direção espiritual, hospedar para retiros, etc…

O lugar onde vivem os frades por seu lado, é chamado convento. O termo deriva do latim “cum-venio“, isto é “convenire”, “reunir-se juntos”. De facto, o frade é todo lançado para as relações, seja com os outros irmãos (criando a “fraternidade”), seja com a sociedade e cada pessoa que encontra.

O convento por isso é um lugar aberto sobre o mundo. Um espaço donde o frade parte para ir ao encontro das pessoas e ao qual regressa. Um lugar onde as pessoas podem vir, encontrar-se, reunir-se e partilhar a fraternidade. Trata-se de um lugar predisposto para favorecer as relações, com Deus, com os irmãos, e com todas as criaturas.

Assim já compreendemos também a diversidade dos “dias-tipo” de monges e frades. As atividades e ocupações que caracterizam a sua vida podem ser muito diversas.

O monge segue o famoso mote “ora et labora“, “reza e trabalha”: o seu dia é ritmado pelos tempos de oração e de trabalho, que pode ser tanto o manual (para a subsistência do mosteiro), como o intelectual (o estudo, a meditação, etc…).

A própria oração é considerada um “trabalho”: o contributo que o monge dá à humanidade é precisamente a sua oração, o seu combate espiritual, que faz de “para-raios” para quem vive “no mundo”. E trata-se de um contributo essencial à Igreja e ao mundo!

O dia do monge é, portanto, caracterizado pelo silêncio e a sua é chamada normalmente “vida contemplativa” (mesmo se hoje se tende a evitar esta terminologia), porque privilegia os espaços de silêncio e oração, procurando guardá-los o mais possível.

Por estas razões muitas vezes (mas nem sempre!) nos mosteiros são poucos os monges que são também sacerdotes. Os sacerdotes de facto devem ocupar-se somente de administrar os sacramentos dentro do mosteiro, portanto não é necessário que muitos deles sejam ordenados padres.

O frade ao invés vive o seu dia entre a oração, a fraternidade e o silêncio, que está além do mais em contacto com as pessoas, em tantas e tantas formas diversas (se queres ter uma panorâmica das nossas atividades, vai a esta página).

O dia do frade (aqui encontras precisamente um exemplo de dia-tipo do frade) portanto é caracterizado pelas relações e a sua é dita normalmente “vida ativa” (ou então vida “ativa-contemplativa”, mesmo se como se diz hoje se tende a evitar estas definições), porque ao lado da sempre necessária oração, há espaço para as atividades, serviço e o encontro com os irmãos e as irmãs.

O “trabalho” dos frades é por isso o partilhar a vida fraterna com as pessoas, procurando juntos a estrada para o Reino de Deus, colocando-se ao serviço de quem precisa, em tantas formas diversas, em tudo com simplicidade e humildade.

Por estes motivos muitas vezes muitos frades são também ordenados sacerdotes, para poder servir melhor a Igreja e as comunidades, também através da administração dos sacramentos. Existem também muitos frades não sacerdotes, que igualmente vivem em cheio a sua vida consagrada, mas normalmente o numero de frades-sacerdotes é maior (aqui explico-te bem a diferença entre frades-frades e frades-sacerdotes).

O monge, pois, vive a “stabilitas”: significa que quando uma pessoa pede para entrar num específico mosteiro, permanecerá naquele lugar toda a vida (à parte casos excecionais). A comunidade de monges daquele mosteiro torna-se a sua família, e ali dentro conduzirá a sua vida de seguimento do Senhor.

Isto porque o monge encontra já dentro daquele mosteiro tudo aquilo que lhe serve para realizar o seu caminho sobre esta terra, e em muitos casos os mosteiros têm até o próprio cemitério, dentro dos muros: nem sequer depois da morte o monge deixa o seu mosteiro!

O frade ao invés vive a “itinerância”. Quando uma pessoa pede para se poder tornar frade, não escolhe um convento específico, mas uma ordem de frades. Deste modo entra numa única fraternidade grande e difusa, cujos membros vivem em tantos conventos espalhados no território. O frade, portanto, pertencerá sempre àquela família, mas ao longo da sua vida, ser-lhe-á pedido várias vezes para mudar de convento, encontrando-se de cada vez a trabalhar em contextos diversos e com irmãos diversos.

Esta mobilidade é chamada “itinerância” e é funcional ao estilo de vida que o frade escolheu: o seu seguimento de Jesus pede-lhe para ser capaz de deixar tudo, de não se apoderar de nada, de viver como “peregrino e forasteiro” neste mundo. Trata-se de uma escolha certamente desafiadora, que obriga de cada vez a deixar tudo e recomeçar, mas é também uma experiência muito libertadora, que manda sempre ao essencial.

Tudo o que dissemos para monges e frades pode-se dizer (simplificando muito) também sobre o mundo feminino.

O monaquismo feminino nasceu ao lado do masculino e segue as mesmas característica que tentámos apresentar. Por vezes encontra-se mais acentuado o elemento da clausura (por razões históricas era necessário proteger estas comunidades de mulheres de estarem á mercê de qualquer um que passasse por lá), mas em boa substância seja a teoria que a prática, são muito semelhantes.

Do mesmo modo as freiras, isto é, as religiosas de vida ativa, conduzem hoje uma vida em tudo comparável à dos frades descrita acima. A diferença é que as mulheres tiveram de esperar muito mais para poderem viver uma “vida ativa” deste tipo. Se já desde 1200 existiam na Igreja grupos femininos que pediam para poder viver deste modo o seu seguimento de Cristo, será somente a partir de 1600 (timidamente), e depois de 1700 e 1800 sobretudo, que se constituirá a vida das freiras assim como a entendemos nós hoje.

A própria santa Clara d’Assis, fascinada pela experiência de Francisco e dos primeiros frades, desejava viver uma vida semelhante à deles, mas terá de optar pela vida monacal, de clausura. Por este motivo a segunda ordem que funda Francisco (juntamente com Clara) é uma ordem monástica (de vida contemplativa), as clarissas. Será somente em 1700 e 1800 que nascerão as primeiras “freiras franciscanas“, constituídas por grupos de mulheres terciárias (pertencentes á terceira ordem fundada por são Francisco) que escolherão viver a vida consagrada em vez da laical (se queres conhecer melhor como é composta hoje a grande família franciscana, aqui encontras um artigo sobre isto).

É muito difícil elencar as ordens religiosas da Igreja: ao longo dos séculos nasceram centenas de grupos diversos, de carismas diferentes, e numerosas ramificações dentro dos mesmos carismas.

Sem pretender ser completo, aqui elencamos somente as principais, para fazer uma ideia (se te parece que falte alguma, escreve-o via mail, e assim podemos acrescentá-la!).

Pelo que diz respeito aos monges, aqui no Ocidente, a ordem fundamental é a dos monges beneditinos, dos quais depois nasceram diversas reformas:

os cluniacenses, os cistercienses, os camaldulenses, os vallombrosianos, os olivetanos, os trapistas e outros.

Além dos beneditinos existem também outras famílias históricas moncais masculinas no Ocidente, como por exemplo os cartuxos. 

Nos últimos decénios nasceram novas comunidades de inspiração monacal a vário título (“a fraternidade monástica de Jerusalém”, os “monges de Belém”, os “monges de Bose”, etc…).

No que diz respeito aos frades, parece um pouco mais simples fazer a lista. As primeiras duas ordens a nascer com esta forma de vida (ditas “ordens mendicantes “) foram, como já dissemos, a ordem franciscana (composta hoje pelos frades menores observantes, por nós frades menores conventuais e pelos frades menores capuchinhos) e a ordem dominicana.

A estas duas juntaram-se depois a ordem dos agostinianos (divididos depois em várias reformas) e dos carmelitas (também eles divididos depois em várias reformas, entre as quais a mais famosa são os carmelitas descalços): eram formas de vida monacal preexistentes, que depois assumiram a vida mendicante dos frades. Surgiram depois também outras ordens de frades, como os servos de Maria, os Mercedários, os Mínimos, os Hospitaleiros, até 1500.

Mais tarde, a partir de 1500, nasceram muitos outros institutos de vida consagrada masculina que conduzem uma vida ativa, semelhante à das ordens mendicantes, mas tipicamente ainda amais lançados sobre o apostolado. Estes, porém, tradicionalmente não assumiram o apelativo de “frades”.

Para nos entendermos estamos a falar dos jesuitas, dos oratorianos, dos salesiani, dos rogacionistas, dos dehonianos, dos combonianos, etc…

Recentemente (na segunda metade de 1900) novos grupos de consagrados voltaram a refazer-se aos carismas nascidos em 1200, e, portanto, assumiram a denominação de “frades” (geralmente como reformas das respetivas ordens antigas).

Trata-se neste caso de “congregações religiosas”, como por exemplo os “franciscanos de Betânia”, “os irmãozinhos de são Francisco”, etc…

Se nos deslocamos para o mundo feminino, torna-se mais difícil fazer um recenseamento das famílias de monjas. Tipicamente a cada ordem masculina corresponde uma ou mais famílias religiosas femininas.

Só a titulo de exemplo entre as monjas recordamos as beneditinas (que se distinguem depois em várias reformas, como dito acima), as cartuxas, as clarissas (para o carisma franciscano, também elas divididas nas  várias reformas, aqui encontras um aprofundamento sobre isto), as dominicanas, as agostinianas, as carmelitas (entre as mais famosas as carmelitas descalças), as visitandinas, e muitas outras.

Tal como para os monges, também no mundo feminino nasceram nos últimos decénios novas realidades de vida consagrada que se refazem aos princípios monásticos, por vezes em concomitância com o nascimento dos respetivos ramos masculinos.

No que diz respeito às congregações de freiras, é de verdade impossível citar algum nome sem esquecer algum outro… Só dentro da família franciscana podem-se contar centenas de grupos diversos de freiras que se refazem ao nosso carisma…

Tipicamente as congregações femininas de vida ativa, como dito, nasceram mais tarde: algumas já desde 1600, mas depois sobretudo em 1700 e 1800, e tiveram uma enorme proliferação. Muitas vezes em cada cidade ou diocese surgiram as próprias congregações locais, que por vezes têm carismas de todo originais, outras vezes refazem-se aos grandes carismas do passado (como o franciscano, o jesuíta, etc…).

Se tens ulteriores dúvidas ou conselhos (ou correções!) sobre este tema, não hesites em escrever.

Bom caminho de discernimento a todos!

fra Nico

– franico@vocazionefrancescana.org

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