Uma ligação profunda a Viseu

Entre chamadas, regressos e missão

Por Frei José Carlos Matias
5 de outubro de 2025

Nasci na antiga maternidade da cidade de Viseu, a 23 de junho de 1976. Cresci na Moita, terra da paróquia de Moledo, Diocese de Viseu, e a capela da minha terra é dedicada a São Francisco — talvez um sinal discreto, sem eu saber que a minha vida passaria por um caminho franciscano. A minha ligação a Viseu não é apenas um traço no mapa. Viseu é a minha terra: aqui nasci, aqui cresci, aqui dei os primeiros passos na fé. Não é uma ligação distante, mas profundamente afetiva e vocacional, marcada por encontros, regressos e desafios que moldaram a minha vida franciscana.

Em 1994, estava prestes a partir para o serviço militar. Enquanto esperava em Viseu pelo transporte que me ligaria ao comboio em Nelas, entrei pela primeira vez na Igreja dos Terceiros. Não sabia então que aquele espaço, e a cidade, viriam a marcar tantas etapas da minha vida (vê o vídeo da TVI).

Alguns anos mais tarde, já na Suíça, abri o Jornal da Beira e li a notícia da abertura da comunidade franciscana de Viseu, constituída pelo Frei João, pelo Frei Severino e pelo Frei Fabrizio. Esse anúncio reacendeu a ligação que sentia à cidade. Trabalhei na Suíça entre 1996 e 2000 e, quando regressei a Portugal, reencontrei os frades e comecei a colaborar mais de perto com eles.

Entrei na Ordem dos Frades Menores Conventuais e, entre 16 de setembro de 2003 e o verão de 2005, vivi no convento de Viseu, onde dei os primeiros passos no caminho com os frades. Depois da profissão simples, em setembro de 2007, regressei por mais um ano. Mais tarde, em setembro de 2017, voltei novamente e aqui permaneci até hoje.

Este último regresso teve um sentido muito especial: dinamizar a Casa de Acolhimento de Jovens e a Casa Vocacional. Era um sonho de revitalização juvenil e vocacional que exigia empenho, criatividade e dedicação. Com o tempo, vieram também os desafios: a morte de alguns frades, a saída de outros e a escassez de vocações. Pouco a pouco, esse projeto perdeu força e tornou-se inevitável encerrá-lo.

O que fica destes anos? Fica a memória de um trabalho feito com amor e simplicidade: a Pastoral Juvenil Vocacional, a Pastoral do Ensino Superior da Diocese, a Capelania da Universidade Católica… Fica também um grupo de jovens, o Coração Jovem, e de leigos que caminharam connosco, a Ordem Franciscana Secular, e tantas pessoas que celebraram, trabalharam, choraram e se alegraram connosco. Fica uma grande família… 

Corremos o risco de olhar para trás como os discípulos de Emaús, dizendo: “nós esperávamos…”. Mas este não é o tempo de baixar a cabeça. É tempo de reacender, com mais força, aquilo que não conseguimos realizar plenamente. O que vivemos juntos não acabou: agora cabe a cada um, em primeira pessoa, continuar esta missão.

Somos desafiados a olhar para o passado com gratidão, viver o presente com paixão e encarar o futuro com esperança. Ficam os rostos e os nomes, os gestos de amizade, a fraternidade vivida, as conversas de corredor e os sorrisos partilhados. Fica a experiência de uma Igreja viva, feita de pessoas concretas que me ajudaram a crescer como frade e como homem de fé.

Tudo isto agradeço a Deus e coloco nas Suas mãos. Parto, mas levo comigo a certeza de que, apesar da distância, permanecerei unido a todos na oração. Viseu será sempre a minha terra, a minha Diocese, a minha casa.

frei José Carlos Matias

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