Precisamente há sete séculos, o beato friulano partia de Veneza com destino à China. Setecentos anos depois, continua intacto o fascínio do relato da viagem que ofereceu ao Ocidente — uma narrativa que, em contraluz, fala também da sua santidade.
Por Alberto Friso
Tradução: Frei Zé Augusto
A memória de uma viagem extraordinária
Pádua, maio de 1330. À sombra das cúpulas da Basílica de Santo António — praticamente idêntica à que ainda hoje admiramos —, Frei Odorico da Pordenone dita as suas memórias ao confrade e escrivão Frei Guglielmo da Solagna.
Não o faz por iniciativa própria. Doente e relutante em falar de si, teria preferido o silêncio. Mas por obediência — e pela insistência de Frei Guidotto — aceita a tarefa. Este, ministro provincial, “mandou e ordenou de maneira importuna”, segundo relatam as crónicas, até vencer a resistência do cansado missionário.
Assim nasce um verdadeiro best-seller — uma obra que influenciaria, entre outros, um certo Cristóvão Colombo. Conhecida sob diversos títulos ao longo do tempo (Historia, Tractatus, Liber, Dispositio, Itinerarium), fixar-se-ia finalmente como Relatio de mirabilibus orientalium Tatarorum — “Narração das coisas maravilhosas dos Tártaros do Oriente”.
Um frade entre os povos do Oriente
O título parece saído da pena de Emilio Salgari, mas, ao contrário do escritor veronês, Frei Odorico não viajou apenas na imaginação. Viveu, de facto, uma extraordinária missão que o levou de Veneza até à China: por terra até ao Golfo Pérsico e, depois, por mar, com escalas na Índia, Ceilão, Java, Bornéu (onde foi o primeiro sacerdote a celebrar Missa), Filipinas e Cantão, até chegar à capital Khanbaliq — a atual Pequim.
Permaneceu três anos na cidade do Grande Khan e regressou à Europa pela rota da seda, atravessando o Tibete, o Afeganistão e a Pérsia. Chegou a Veneza entre o final de 1329 e o início de 1330 — o mesmo ano em que o encontramos em Pádua. A partida acontecera em 1318: precisamente há sete séculos.
Uma celebração de 700 anos
O sétimo centenário desta partida inspirou o projeto Odorico700, que mobilizou Pordenone e Udine — onde o franciscano morreu e foi sepultado em 1331 —, bem como Pádua, Portogruaro, Praga e Viena.
As iniciativas foram múltiplas: exposições, congressos, conferências, publicações, atividades escolares e encontros religiosos. O ponto alto está marcado para outubro — mês missionário —, com dois dias de celebração na Basílica de Santo António (20 e 21 de outubro).
O frade missionário, não o mercador
Odorico não é Marco Polo. Trinta anos depois do célebre mercador, o frade friulano atravessou a Ásia não por comércio, mas por evangelização.
A viagem durou mais de uma década, devido às inúmeras paragens pastorais que fez com o companheiro Frei Giacomo da Irlanda. Passou cinco anos na Arménia, Mesopotâmia e Pérsia, e três anos na China.
O regresso à Europa teve também motivações pastorais: pedir ao Papa o envio de novos missionários. A ordem veio do arcebispo de Khanbaliq, Frei Giovanni da Montecorvino. Odorico não foi o primeiro franciscano a pregar no Oriente, mas um dos que mais longe levou a mensagem do Evangelho enquanto a “paz mongol” o permitiu.
A fé que vence o desconhecido
Com o propósito de inspirar novas partidas missionárias, a Relatio evita focar-se nas dificuldades da viagem, preferindo apresentar os desafios pastorais e a esperança que animava os evangelizadores.
Como observa Giancarlo Stival em Frate Odorico del Friuli (EMP, 2012), o frade “sublinha o respeito do Grande Khan pela religião cristã, o afeto pelos Frades Menores e o facto de haver cristãos entre os seus médicos — tudo isto servia para dissipar o ‘medo do desconhecido’ que impedia muitos de partir sem grande espírito de aventura.”
A viagem de Frei Odorico foi, verdadeiramente, uma aventura esplêndida e entusiasmante — de fé, coragem e esperança.
Fonte original: messaggerosantantonio.it
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